11 de março de 2009

Por um punhado de assessores...


“O meu grande problema enquanto ministro das Finanças foi não me ter rodeado de assessores de imprensa que pudessem valorizar o meu trabalho junto da opinião pública”.
Lapidar a afirmação e, ao mesmo tempo, tão actual. Só que, na realidade, foi proferida há 19 anos atrás, mais precisamente a 15 de Agosto de 1990, por Miguel Cadilhe em entrevista ao semanário Tempo.
Hoje, uma afirmação pública desta natureza feita por um político ou uma outra qualquer destacada figura da nossa sociedade seria um crime lesa Pátria.
Os detractores ergueriam as suas vozes clamando a infâmia daqueles que se rodeiam de agentes de Propaganda, como o fazem amiúde nos dias que correm contra assessores e agências de comunicação. Outros, muitos dos que pululam por esta área nobre, correriam a vender serviços formatados, fosse de assessoria, fosse de gestão da comunicação ou da reputação.
O óbvio resulta do facto da fronteira ética ser naturalmente ténue nesta área de prática, mas o mesmo poderíamos dizer, por exemplo, de muito do jornalismo que se pratica nos dias de hoje. Porquê? Porque a diferença continua a residir na dimensão do individual, mas, neste caso, com uma dupla face: atinge tanto os assessores (ou as agências) como os próprios assessorados (pessoas ou organizações). Por isso, a afirmação de Miguel Cadilhe é ainda mais lapidar quando define o trabalho do assessor como factor crítico para valorizar o seu trabalho junto da opinião pública. Porque esta correcta definição de papéis é fundamental no estruturar da dimensão ética na esfera da Comunicação. Ainda recentemente abordei o problema das relações funcionais entre os diversos agentes e protagonistas deste universo e um olhar mais atento e crítico no que respeita a instituições, responsáveis e consultores de comunicação pode revelar-nos um panorama desencorajador: salvo algumas excepções, todos interpretam papéis que não lhes estão destinados, corrompendo a essência da sua actuação, porque, na voragem actual de que tudo é comunicável, o nível mais básico da decisão em comunicação – o que se comunica e não como se comunica – foi deixado ao critério de quem não estava naturalmente preparado para gerir esses domínios. Pior ainda quando a fragmentação de Poder dentro das organizações estilhaça toda a política de comunicação se é que ela muitas vezes existe. E é aqui que muitas das agências e consultores caiem reféns porque preferem defender o negócio do que o rigor da sua actuação e sucumbem à clientocracia, arrastando a sua própria reputação – mas infelizmente também a do sector – numa espiral de consequências incontroláveis. Às vezes a expressão mais adequada parece ser “por um punhado de dólares…” para quem conhece o filme.

PS: Miguel Cadilhe ainda não encontrou os tão necessários assessores pelo que continuamos a ver…
Crônicas da Frontline

5 de março de 2009

África minha



Nestes últimos dias, os trágicos acontecimentos da Guiné-Bissau têm preenchido muito espaço informativo e merecido também as habituais análises de comentadores. E, neste domínio, mais uma vez nos deparamos com um panorama decepcionante. Uma excepção que sinalizo e recomendo que leiam. O post do José Paulo Fafe - O último guerrilheiro - que, em poucas linhas, traça um retrato fiel de mais um lamentável episódio da política africana.


Conheço bem a realidade africana, embora sejam trilhos que deixei de percorrer com tanta intensidade já lá vão uns 20 anos. Mas a paixão ficou. Tive o privilégio de cruzar o meu caminho com Homens como Sam Nujoma, Savimbi, Desmond Tutu, entre tantos outros, de todos os lados das barreiras, das crenças, das ideologias, dos regimes.


Pergunto onde andavam muitos destes doutos analistas de hoje?