20 de dezembro de 2010

Três anos de Frontline

A Revista Frontline está a celebrar o seu terceiro aniversário. É hoje um projecto consolidade e tenho dado eco neste espaço de muitos dos textos que tenho escrito para a revista. No próximo ano assim continuarei.
Aqui fica o link, pois para além da edição em banca a revista está também online: http://www.hv-press.pt/

14 de dezembro de 2010

Mais uma vez Clarence Mitchell

O porta-voz dos McCann  (só para recordar também já foi do primeiro-ministro britânico)  volta à cena, desta vez para rotular de nota histórica o conteúdo de um telegrama confidencial trocado entre os embaixadores britânico e norte-americano, em Lisboa, em que o primeiro afirmava que a polícia tinha provas contra o casal McCann no caso do desaparecimento da filha. O telegrama, agora revelado pelos jornais espanhol El País e britânico The Guardian, reporta a Setembro de 2007, mas a afirmação de Clarence Mitchell é completamente desprovida de sentido. A nota pode ser histórica, as provas não perdem validade, a menos que assim se queira.
Para os menos atentos, em Agosto de 2008, deixei aqui uma pergunta no ar. Pode ser que agora comece a ser respondida.

10 de dezembro de 2010

Uma dor de alma

Ontem, por mero acaso, ouvi ( e, mais do que ouvir, vi ) uma intervenção da ministra do Trabalho na Televisão. Uma dor de alma. Com tantos consultores e agências de comunicação será que não há ninguém que lhe dê uma mãozinha? Ou será que já não vale a pena a aposta?

Uma afronta perigosa

Carlos César tem revelado, principalmente neste último ano, uma total inabilidade política, mas agora começa a revelar a sua verdadeira "tendência anarquista", aliás pródiga em muitas figuras mais ortodoxas dentro do aparelho socialista. Estas suas últimas afirmações, para além de perigosas são afrontosas à generalidade dos portugueses quando afirma que no caso da remuneração compensatória para os trabalhadores da administração pública regional que ganham entre 1.500 e 2.000 euros mensais, o que o Executivo açoriano decidiu foi "cancelar uma obra num campo de futebol e apoiar um conjunto de trabalhadores e famílias".
Ou será que Carlos Carlos César não conhece a realidade do seu país?

16 de novembro de 2010

O Princípio da Prudência

Distraidamente percorro os olhos pelas páginas do mundo. Curiosa a recepção ao Papa Bento XVI: menos fiéis do que o esperado e brindado à passagem com meia dúzia de homossexuais a beijarem-se. Sinais dos tempos, talvez? Sinais identitários nunca! Em Portugal chamou-se a atenção os números da imigração: 70 a 75 mil portugueses a fugirem para o estrangeiro todos os anos, valores muto próximos dos anos de êxodo da nossa imigração em massa, sobre tudo para França na década de sessenta, mas certamente por motivos diferentes. Facto curioso é que ninguém consegue caracterizar esta imigração: quem são? Escolaridade? Para onde vão e fazer o que? Sinais dos tempos provavelmente.

Mas neste divagar não consigo fugir ao matraquear assustadoramente ritmado dos juros da dívida pública portuguesa e da tenebrosa (?) fasquia dos 7%. Substitua-se ritmado por concertado e, aqui sim, começamos a perceber que se desenham no horizonte mais sinais identitários, no sentido de uma acção concertada, do que sinais dos tempos, no sentido de uma reacção conjuntural. Mas mais preocupante é que toda esta dinâmica só faz algum sentido quando é propensamente potenciada pela comunicação social.

Foi nesta embriaguez que quase passou despercebida uma decisão de ferro como a do BES de cortar as suas ligações com a agência de cotação financeira Fitch depois da “tecnicamente inexplicável” revisão em baixa do rating dos principais bancos portugueses. Não podemos, para já, avaliar se a decisão do BES foi prudente, mas a sua decisão teve em conta o denominado Princípio da Prudência. Não o que decalca da Contabilidade, mas sim a observância mais lata que emana da dialéctica aristotélica e que nos leva a criar sistemas redundantes perante as possibilidade de ameaça e incerteza. Ou seja, o BES reagiu contra uma ameaça que configura um mal maior com uma decisão que poderá configurar um mal menor. A observância do Principio da Prudência não é um acto irreflectido, mas um acto consciente, ponderado, e determinado. Irreflectido seria deixar propagar uma ameaça, cujos contornos (ou propósitos) não são ainda totalmente conhecidos, mas cujo balanço aparentemente orquestrado com as Siglas FMI e Merkel começa a ser mais que suspeito. E a sigla Merkel vai regendo a Orquestra com uma batuta chamada comunicação social.

Infelizmente, parece que para a generalidade dos nossos decisores políticos, o Princípio da Prudência é ainda uma realidade desconhecida. E o próprio Presidente da República em nada tem ajudado.

Crônicas da Frontline

28 de outubro de 2010

Para bom entendedor...

Comunicação e Política continuam a viver num pântano e custa-me a crer que ninguém perceba que são os profissionais da área que mais atingidos são na sua reputação. Vem isto a propósito de uma notícia do Jornal de Negócios sobre as ligações, entre outras, da F5C ao actual Governo. Não digo, nem discuto se elas existem ou não. Digo apenas que provavelmente a citada consultora tem trabalhado tanto para o PS como para o PSD. Aliás, coincidências aceita-as quem quer. No entanto, não deixa de ser curioso que estas notícias sejam veiculadas numa altura em que consta que a cúpula máxima do PSD se tem aconselhado em matérias sensíveis de marketing e comunicação política com consultor(es) da F5C. Será isto uma reacção corporativista ou haverá por ai gente que já se julgava de volta ao poleiro pelas mesmas razões que faz sentir nos outros? Principalmente depois de conhecidas as sondagens mais recentes (que, aliás se diga, o PSD revelou alguma falta de sentido de oportunidade "em ter deixado cair"). Já agora, aos ávidos de informação, fica uma pista: porque não olham para as recentes mexidas na informação da RTP, nomeadamente no Canal 2, que, por acaso, até é uma estação pública.

22 de outubro de 2010

Brilhante...e está tudo dito

Episódio Adriano Duarte Rodrigues encerrado. Como refere o meu caro Professor, Mestre e amigo António Marques Mendes neste seu post. Brilhante.

Inacreditável...

O que se está a passar com o Senhor  Adriano Duarte Rodrigues é, no mínimo, inacreditável. Ao tentar justificar o seu injustificável comportamento e considerações que fez sobre as Relações Públicas nas provas de agregação do Prof. Nuno Brandão, vem agora (para além de se tentar vitimizar) afirmar que as Relações  Públicas são afinal "cursos de Formação Profissional,  de boas maneiras para habilitar profissionais a trabalhar em empresas".
As declarações estão no Meios e Publicidade de hoje.

Neste momento exige-se à Reitoria da Universidade Técnica de Lisboa que tome uma posição. Já não é uma caso de incontinência, como afirmou José Nuno Martins no seu artigo no Diário de Notícias, é um caso de demência e falta de respeito por instituições, profissionais e estudantes.

21 de outubro de 2010

Relações Solidárias

Ontem, deixei aqui uma nota sobre o pedido da Carolina Enes no que respeita à investigação que está a desenvolver no âmbito do Mestrado em Relações Públicas. Hoje, registei com agrado a adesão que o seu pedido teve na blogosfera.
Afinal, as Relações não são só Publicas, são Solidárias. Um exemplo a reter.

20 de outubro de 2010

Projecto de Investigação na área das RP

A Carolina Enes está a desenvolver um projecto de investigação no âmbito do Mestrado em Gestão Estratégica das Relações Públicas (Escola Superior de Comunicação Social) e cujo principal objectivo é o de estudar a percepção que jornalistas e RP's têm da sua própria profissão e da profissão do outro.

O objectivo é recolher informação por parte dos profissionais da área da comunicação e jornalismo.
Fica aqui o link para o questionário:

https://www.survs.com/survey/2ZTUCAVHTJ

19 de outubro de 2010

Para os mais desatentos

O lamentável episódio protagonizado pelo Senhor Adriano Duarte Rodrigues nas provas de agregação do Prof. Nuno Brandão levou, entre muitas, a uma reacção pública da SOPCOM, a Associação Portuguesa de Ciências da Comunicação. O essencial está dito, mas é importante reter um parágrafo do referido comunicado: Sem dúvida que o professor Adriano Duarte Rodrigues teve um papel importante na constituição das Ciências da Comunicação em Portugal. No entanto, há mais de uma década que, por actos continuados e semelhantes àquele que ora repudiamos, a comunidade académica portuguesa de Ciências da Comunicação tem suportado esta indignidade de cevar os seus caprichos e ajustes de contas.
Portugal ainda é um País de Corporações que vivem impunes, instaladas no Poder e ditam as suas próprias regras em defesa de interesses que servem apenas um conjunto limitado de indivíduos. Até no Ensino Superior assim é. Esta é a ameaça real à Democracia.

Apenas mais uma palavra para o blogue do Prof. Rogério Santos que também deu eco a muitas tomadas de posição sobre este assunto.

18 de outubro de 2010

O Engodo


Finalmente…o grande engodo comunicacional que Portugal vive há mais de uma década está prestes a rebentar. A bolha vai estilhaçar tudo e todos mas os principais culpados são todos os portugueses, todos nós. A Democracia plena constrói-se na participação, não na informação ou na comunicação. Mais acesso, mais informação, mais liberdade de expressão, não significa melhor informação, mas, via da regra, mais espaço para manipulação. O espectáculo, o mediatismo, o aqui a agora, destroem o espaço público, destroem a capacidade de mediação, de o indivíduo racionalizar e exploram a sua vulnerabilidade. A “verdade dos media” é a verdade tout court. A política já não vive fora do mediatismo, até porque esse era incortornável, (mas não insubstituível). Os políticos não conhecem os eleitores, os eleitores não sabem quem são os políticos. Apreendem apenas a realidade do grande ecrã e o filtro não é necessariamente isento. Da política espectáculo já estamos muito próximo do espectáculo da política. Tudo se constrói em torno do espaço mediático, do palco, como se de um live show se tratasse. E assim, em questões menores, discussões estéreis, chantagens diplomáticas, proliferação de análises e analistas que tentam interpretar o que os políticos dizem – pois estes já não falam no espaço comum em que os cidadãos os possam compreender – se vão escondendo as realidades ou melhor se têm vindo a esconder as realidades deste país, o seu atraso estrutural, a incapacidade ou não vontade de controlar o “monstro Estado no seu voraz apetite tão necessário para o clientismo político”. Porque Portugal é um doente endémico. Não foi esta crise que colocou o País em coma, mas sim o estado debilitado da Nação que COMUNICACIONALMENTE aparentava uma saúde de ferro.
Em entrevista recente à TSF, Medina Carreira não pôs o dedo na ferida, antes enfiou o braço até ao ombro como se do parto de uma bezerra se tratasse: «o primeiro-ministro não tem estratégia nenhuma senão andar a fazer espectáculo e ir conciliando as circunstâncias para ver se vai durando». Mas não é só o primeiro-ministro. São os políticos, são os socialistas, são as máquinas de assessores, consultores, analistas e agências de comunicação que gravitam à volta do sistema. Não significa isto que, nesta panóplia imensa, não exista gente séria e preocupada. Só que a teia foi bem urdida e rompê-la não é uma tarefa fácil.
Pode ser que muitos outros Medinas Carreira consigam finalmente romper o engodo comunicacional em que temos vivido há mais de uma década.
É que agora já não é tempo de falar, é tempo de agir.
Crônicas da Frontline

Uma questão em aberto

Ainda no rescaldo do triste episódio de Adriano Duarte Rodrigues e as RP fica uma questão em aberto: como vai a Reitoria da Universidade Técnica de Lisboa resolver o problema das provas de agregação do Prof. Nuno Brandão que foi alvo de uma "execução sumária"? Mais ainda sabendo agora que o presidente do júri não era qualificado para o efeito. Que interesses, objectivos ou vinganças se moveram por detrás?

14 de outubro de 2010

Dignificação II

Opinião sábia e sensata publicada no mural do Prof. Pedro Pais de Vasconcelos que tomo a liberdade de reproduzir:

Como Professor Catedrático da Faculdade de Direito da Universidade (Clássica) de Lisboa, manifesto público repúdio pelo que se passou na prova de agregação do Prof. Brandão. A Universidade Técnica de Lisboa viveu um dia negro e tem de se cuidar seriamente que quiser ser respeitada como Universidade, para além de uma amálgama de Institutos, que verdadeiramente mais parece ser.

Uma opinião que muito dignifica as RP

Foi gratificante o comentário que o Alexandre Cordeiro fez no meu post sobre esta inaceitável situação que nos atinge a todos enquanto profissionais das RP, professores da área, estudantes, associações, agências.
Não é só uma opinião abonatória, é uma tomada de posição, mais vinda de quem vem, que nos dignifica a todos.
Tomo a liberdade de o reproduzir para que não escape aos olhos de ninguém:


"Inenarrável" como diria o meu bom amigo Vicente Jorge Silva! Sugiro ao Nuno Goulart Brandão que se candidate e preste provas noutra Universidade... embora o ISCP não tenha "culpa" (imediata e directa) das diarreias de um dos seus profs......É assunto do foro profissional a tratar em Portugal pela APCE a quem desde já sugiro uma investigação apertada aos precisos termos do sucedido. Depois, com base nessas conclusões objectivas, poderei levar eu próprio o assunto ao terreno da IPRA.
É simplesmente lamentável que isto ocorra num acto público, numa escola pública, e que ninguém, nem colegas de júri nem a Direcção da escola e/ou a Reitoria pelo menos se pronuncie sobre a matéria. Será que, também neste caso, quem cala consente?

Alexandre Cordeiro

14 de Outubro de 2010

Prostituição Académica II

Aqui fica o link para o artigo do José Nuno Martins
http://dn.sapo.pt/inicio/opiniao/interior.aspx?content_id=1685179

Prostituição Académica

O que se passou nas provas de agregação do prof. Nuno Brandão e que José Nuno Martins dá hoje eco num artigo publicado no DN é de uma gravidade sem precedentes. Primeiro, porque a própria Universidade Técnica de Lisboa, ao legitimar este tipo de actuação, põe em causa todo um corpo científico de saber e todos os profissionais da área da comunicação e Relações Públicas, organismos, agências, estudantes, etc., etc. Segundo, porque ameaça toda a Cátedra Portuguesa. Se todos os professores catedráticos deste país não reagirem publicamente contra o que este senhor fez, significa isso que legitimam este tipo de actuação e conferem a si próprios um rótulo de descrédito, corporativismo e insanidade a que sujeitam todos os estudantes e professores universitários do ensino superior em Portugal.
Como refere José Nuno Martins, o que o senhor Adriano Duarte Rodrigues fez foi, para além de revelar e assumir desconhecimento sobre as matérias que estavam ser arguidas (estranho como o presidente do júri revela esta insconsistência), acabar por tecer considerações sobre considerações, comparando as Relações Públicas a expressões referidas às mulheres da vida pública e se não diriam respeito, isso sim, "às relações usuais em casas de passe".

12 de julho de 2010

Bizarro


O dono de uma Agência de Comunicação como voz oficial a desmentir um boato de falta de liquidez do maior banco privado português é no mínimo bizarro. Todos os actores saem mal da novela, principalmente o BCP que revela a veleidade na forma como trata a sua imagem, a sua comunicação e o respeito pelos seus públicos. Saem mal as agências de comunicação nesta lógica de «apropriação de protagonismo gratuito».



PS: Por apurar fica o facto do boato correr já há muitos dias como uma insistência pouco normal nos corredores de S. Bento.

28 de maio de 2010

PORTUGAL: Comunicação interna precisa-se...

Se olharmos com alguma atenção para todo este clima de ameaça económica que paira sobre Portugal montado por “umas agências e uns senhores” que ninguém compreende bem a legitimidade, as motivações e, muito menos, como funcionam não pudemos deixar de nos interrogar porque ninguém reage a contestar essa mesma legitimidade. O Pais aceita resignado esta percepção induzida de que algo está mal na nossa economia e logo o País está à beira da falência.
Que o País está mal, os portugueses sabem-no. Não de agora mas de há muito anos a esta parte. Mas os portugueses não reagem, se revelam esta apatia resignada terá de haver algo que o explique, que o motive, para além do fado e do triste destino.
Olhemos para o País como uma empresa, olhemos para os portugueses como o seu capital humano e procuremos onde está a cultura organizacional entendida como o elemento agregador dos seus colaboradores, como um tecido com as suas características próprias de padrão, cor e resistência, rapidamente temos de concluir que, quanto mais “esticamos” as organizações para patamares de exigência e competitividade, mais a curva de elasticidade desse mesmo tecido organizacional e social vai diminuindo e caminhando para o ponto de ruptura. E é precisamente onde estamos hoje.
Se entendermos que as organizações são baseadas em conhecimento e que a capitalização deste conhecimento a favor da construção de vantagens competitivas só pode ser conseguido através da colaboração entre todas as pessoas – e para isso acontecer são necessárias networks de informação e de co-resolução de dificuldades – facilmente concluímos que é fundamental criar capital relacional que só é conseguido pela existência de uma cultura facilitadora e de um clima organizacional (político) de abertura, capazes de gerar confiança.
Porque é necessariamente disto que estamos a falar: do patamar mínimo de confiança dentro da organização que permita aos seus colaboradores desenvolverem todo o seu potencial. É que associado ao patamar de confiança está um outro conceito inversamente proporcional – o da ameaça ou da desejável redução do nível de ameaça na organização – talvez aquele que, descontrolado, mais prejuízo causa nas estruturas organizacionais, seja uma empresa, seja um País.
Em Portugal andam todos a falar para fora quando os portugueses precisam é de alguém que fale com eles. Que explique, que mobilize, que desconstrua os mitos e os interesses que eles servem. Esta é a grande meta: montar um sistema de comunicação interna capaz de gerar confiança. É disto que os portugueses precisam.
Crônicas da Frontline

18 de maio de 2010

Voando sobre um ninho de cucos

Quando Pedro Passos Coelho conquistou a liderança do PSD assaltou-me à memória uma imagem curiosa, ambígua, mas carregada de significado: de um Jack Nicholson a jogar basquetebol no pátio de um hospício.
Obra-prima de Milos Forman, o filme retrata a estranha história de um jovem delinquente que para escapar à pena de trabalhos forçados a que foi condenado resolve fazer-se passar por doente mental. Mas quando chega à instituição psiquiátrica que o vai acolher o choque é profundo e quando se começa a confrontar com os abusos físicos e psicológicos encabeça uma revolta com os doentes rebelando-os contra toda a violência a que eram sujeitos.
Assim está Passos Coelho para o actual aparelho social-democrata. Um “estranho” para o actual status quo e que rapidamente vai ter de afrontar poderes instituídos e rebelar o Partido para então ter tempo para olhar para Portugal. Para já o Partido parece estar a ganhar e acredito que só a pressão tentacular de que Passos Coelho ainda é refém explique a sua entrada de pé esquerdo e alguns momentos infelizes que já protagonizou na sua nova qualidade de líder, principalmente quando se trata de comunicar. O erro é fatídico e o novo líder parece, para já, alinhado no diapasão medíocre da comunicação política em Portugal: falar entre pares e esquecer que quem tem de ouvir são os portugueses.
Passos Coelho tem de fugir à lobotomia que o partido e também os seus opositores políticos lhe vão querer impor, cada um à sua maneira como a calculista enfermeira Milred Ratched fazia aos seus doentes. Mas, por outro lado, Passos Coelho, assim como Randle P. McMurphy, o personagem de Jack Nicholson, leva um trunfo de avanço que se traduz na sua (acreditemos) capacidade de destabilizar, sem que ninguém consiga antecipar as suas jogadas assim elas fujam ao normativo de acção política de todos aqueles que se arrastam pelos corredores e becos do Poder. Mesmo aqueles que há menos tempo (aparentemente) andam nesta andanças, a exemplo dos bloquistas, já lhe ganharam o vício. Bom sinal foi as estranhas reacções e naturalmente pouco enérgicas reacções às escolhas que o líder fez para os seus pares mais próximos, principalmente a vinda dos académicos puros e duros para a esfera da política activa. Porque de políticos sem provas dadas está o País cheio deles.
Passos Coelho tem o destino nas suas mãos: ou ganha a revolta e logo o País ou rapidamente vai perceber a analogia do voando sobre um ninho de cucos de que “descansar num hospital de doentes mentais só pode ser coisa de loucos”.
Crônicas da Frontline

13 de maio de 2010

Politicamente burros

Francisco Louça deve andar aos pulos de contente. Não é preciso radicalizar o discurso. O PS e o PSD começaram a dar-lhe os portugueses de mão beijada. Penalizar os portugueses com mais carga fiscal quando estes têm clara consciência que estão a pagar os erros dos políticos e ainda tentar suavizar dizendo que na resposta à crise, mesmo assim, metade do esforço necessário vem do corte da despesa pública não é um erro político mas sim uma tropelia sem qualificação. Em abono da verdade, muito neste país também resulta de uma falência cultural de que milhares de portugueses não se podem alhear e ai com grande responsabilidade para as centrais sindicais e muitas outras agremiações similares que se movem por interesses egoístas. Mas para os outros muitos milhares de portugueses é chegado o momento do direito à indignação. Os socialistas não surpreenderam e a arrogância manifestada pelo Ministro das Finanças não é sinal de desnorte, nem tão pouco uma atitude irreflectida de um"pai que tanta recuperar a legitimidade perdida". É o espelho embaciado da forma como José Sócrates tem governado estes anos. Só que agora nem a máquina da comunicação já faz milagres.
Quanto a Passos Coelho, as desculpas evitam-se...

10 de maio de 2010