28 de maio de 2010

PORTUGAL: Comunicação interna precisa-se...

Se olharmos com alguma atenção para todo este clima de ameaça económica que paira sobre Portugal montado por “umas agências e uns senhores” que ninguém compreende bem a legitimidade, as motivações e, muito menos, como funcionam não pudemos deixar de nos interrogar porque ninguém reage a contestar essa mesma legitimidade. O Pais aceita resignado esta percepção induzida de que algo está mal na nossa economia e logo o País está à beira da falência.
Que o País está mal, os portugueses sabem-no. Não de agora mas de há muito anos a esta parte. Mas os portugueses não reagem, se revelam esta apatia resignada terá de haver algo que o explique, que o motive, para além do fado e do triste destino.
Olhemos para o País como uma empresa, olhemos para os portugueses como o seu capital humano e procuremos onde está a cultura organizacional entendida como o elemento agregador dos seus colaboradores, como um tecido com as suas características próprias de padrão, cor e resistência, rapidamente temos de concluir que, quanto mais “esticamos” as organizações para patamares de exigência e competitividade, mais a curva de elasticidade desse mesmo tecido organizacional e social vai diminuindo e caminhando para o ponto de ruptura. E é precisamente onde estamos hoje.
Se entendermos que as organizações são baseadas em conhecimento e que a capitalização deste conhecimento a favor da construção de vantagens competitivas só pode ser conseguido através da colaboração entre todas as pessoas – e para isso acontecer são necessárias networks de informação e de co-resolução de dificuldades – facilmente concluímos que é fundamental criar capital relacional que só é conseguido pela existência de uma cultura facilitadora e de um clima organizacional (político) de abertura, capazes de gerar confiança.
Porque é necessariamente disto que estamos a falar: do patamar mínimo de confiança dentro da organização que permita aos seus colaboradores desenvolverem todo o seu potencial. É que associado ao patamar de confiança está um outro conceito inversamente proporcional – o da ameaça ou da desejável redução do nível de ameaça na organização – talvez aquele que, descontrolado, mais prejuízo causa nas estruturas organizacionais, seja uma empresa, seja um País.
Em Portugal andam todos a falar para fora quando os portugueses precisam é de alguém que fale com eles. Que explique, que mobilize, que desconstrua os mitos e os interesses que eles servem. Esta é a grande meta: montar um sistema de comunicação interna capaz de gerar confiança. É disto que os portugueses precisam.
Crônicas da Frontline

18 de maio de 2010

Voando sobre um ninho de cucos

Quando Pedro Passos Coelho conquistou a liderança do PSD assaltou-me à memória uma imagem curiosa, ambígua, mas carregada de significado: de um Jack Nicholson a jogar basquetebol no pátio de um hospício.
Obra-prima de Milos Forman, o filme retrata a estranha história de um jovem delinquente que para escapar à pena de trabalhos forçados a que foi condenado resolve fazer-se passar por doente mental. Mas quando chega à instituição psiquiátrica que o vai acolher o choque é profundo e quando se começa a confrontar com os abusos físicos e psicológicos encabeça uma revolta com os doentes rebelando-os contra toda a violência a que eram sujeitos.
Assim está Passos Coelho para o actual aparelho social-democrata. Um “estranho” para o actual status quo e que rapidamente vai ter de afrontar poderes instituídos e rebelar o Partido para então ter tempo para olhar para Portugal. Para já o Partido parece estar a ganhar e acredito que só a pressão tentacular de que Passos Coelho ainda é refém explique a sua entrada de pé esquerdo e alguns momentos infelizes que já protagonizou na sua nova qualidade de líder, principalmente quando se trata de comunicar. O erro é fatídico e o novo líder parece, para já, alinhado no diapasão medíocre da comunicação política em Portugal: falar entre pares e esquecer que quem tem de ouvir são os portugueses.
Passos Coelho tem de fugir à lobotomia que o partido e também os seus opositores políticos lhe vão querer impor, cada um à sua maneira como a calculista enfermeira Milred Ratched fazia aos seus doentes. Mas, por outro lado, Passos Coelho, assim como Randle P. McMurphy, o personagem de Jack Nicholson, leva um trunfo de avanço que se traduz na sua (acreditemos) capacidade de destabilizar, sem que ninguém consiga antecipar as suas jogadas assim elas fujam ao normativo de acção política de todos aqueles que se arrastam pelos corredores e becos do Poder. Mesmo aqueles que há menos tempo (aparentemente) andam nesta andanças, a exemplo dos bloquistas, já lhe ganharam o vício. Bom sinal foi as estranhas reacções e naturalmente pouco enérgicas reacções às escolhas que o líder fez para os seus pares mais próximos, principalmente a vinda dos académicos puros e duros para a esfera da política activa. Porque de políticos sem provas dadas está o País cheio deles.
Passos Coelho tem o destino nas suas mãos: ou ganha a revolta e logo o País ou rapidamente vai perceber a analogia do voando sobre um ninho de cucos de que “descansar num hospital de doentes mentais só pode ser coisa de loucos”.
Crônicas da Frontline

13 de maio de 2010

Politicamente burros

Francisco Louça deve andar aos pulos de contente. Não é preciso radicalizar o discurso. O PS e o PSD começaram a dar-lhe os portugueses de mão beijada. Penalizar os portugueses com mais carga fiscal quando estes têm clara consciência que estão a pagar os erros dos políticos e ainda tentar suavizar dizendo que na resposta à crise, mesmo assim, metade do esforço necessário vem do corte da despesa pública não é um erro político mas sim uma tropelia sem qualificação. Em abono da verdade, muito neste país também resulta de uma falência cultural de que milhares de portugueses não se podem alhear e ai com grande responsabilidade para as centrais sindicais e muitas outras agremiações similares que se movem por interesses egoístas. Mas para os outros muitos milhares de portugueses é chegado o momento do direito à indignação. Os socialistas não surpreenderam e a arrogância manifestada pelo Ministro das Finanças não é sinal de desnorte, nem tão pouco uma atitude irreflectida de um"pai que tanta recuperar a legitimidade perdida". É o espelho embaciado da forma como José Sócrates tem governado estes anos. Só que agora nem a máquina da comunicação já faz milagres.
Quanto a Passos Coelho, as desculpas evitam-se...

10 de maio de 2010