5 de novembro de 2008

Quem tramou Portugal?



Nos últimos tempos, talvez por falta de matérias mais profundas para reflectir, tenho-me debruçado amiúde sobre as razões que possam explicar este reiterado atraso crónico do nosso País em relação a tudo e a todos: o chamado lanterna vermelha do mundo ocidental e civilizado. Estamos cansados das análises de traços sociológicos, culturais, dos denominados atrasos estruturais, da falta de competitividade, da culpa do isolacionismo do Estado Novo… tudo explica tudo, mas nada explica nada.
Tem forçosamente de haver mais qualquer coisa que, naturalmente ligada a um complexo conjunto de factores entre os muitos que enumerei atrás, explique esta passividade agonizante de um Portugal que se quer afirmado, moderno e europeu.
Não sou um profeta da desgraça, antes pelo contrário, e sinto-me tentado a uma abordagem mais pragmática para compreender esta inacção que ainda hoje atinge o espaço luso, apesar do esforço de muitos e bons portugueses.
Imaginei uma viagem pela história, não ao passado, mas sim se tivesse capacidade de trazer ao tempo presente alguns daqueles que marcaram o nosso rumo nestes oito séculos de caminho e avaliar a suas opiniões.
Imagino D. Afonso Henriques a entrar por São Bento e correr a maioria dos parlamentares a fio de espada gritando “vão trabalhar malandros. Foi para isto que passei 40 anos a cavalo a empurrar espanhóis e mouros de Guimarães para baixo…”. Logo, o sistema político faliu.
Imagino o Intendente Pina Manique a ler o novo código penal e a ter de abdicar dos seus métodos eficazes de combate ao crime. Logo, o sistema judicial faliu.
Imagino D. Sebastião a entrar no comício da rentrée do Pontal a exclamar: “Porreiro pá! Não me digam que ainda estão à minha espera?”. Logo, ficámos reféns da esperança e continuamos (apenas) a ter esperança em dias melhores.
Por aqui continuaríamos num desfilar infindável de personagens se não tivesse descoberto outro obstáculo intimamente ligado ao nosso desaire. Falo da sabedoria popular, esse interminável acumular de saber e bom senso que, mal utilizado, se pode tornar numa arma terrível contra nós.
Veja-se o “óptimo é inimigo do bom”. Nunca procurámos a excelência, não arriscamos, temos medo de ir mais além. Ficamos confinados ao bom. O problema é quem é que define o que é bom? Atente-se, por exemplo, àquela máxima de que “a sorte é aquilo com que os medíocres tentam explicar os feitos dos génios”. Na realidade, não acreditamos no sucesso. E se temos tantos rotulados de sortudos neste país, imaginem exponencialmente qual será o número de medíocres?
A galinha da vizinha é sempre mais gorda que a minha e, logo por azar, temos Espanha ao lado.
Imagino que diriam D. João IV e Dona Luísa de Gusmão ao retornarem ao Terreiro do Paço: “Não nos digam que o Miguel de Vasconcelos não morreu?
Na realidade, tudo não passa de um grande engano. O problema parece ser afinal uma interpretação errónea da nossa Cultura e da nossa História. Acidental ou imposta? O que já percebemos é que o sistema político faliu e outros se seguem neste país. Ainda bem. Pode ser que assim as estruturas cristalizantes libertem finalmente os rasgos da individualidade, que novos sistemas possam emergir, que se estimule a ousadia e a vontade de querer ser.
Venham Viriatos, Reis ou conjurados. Adeus à redundância, aos políticos, aos economistas, aos jornais, à televisão.
É tudo uma questão de Querer é Poder. Senão, como diz o povo, nunca mais passamos “da cepa torta”.

Crônicas da Frontline

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