Distraidamente percorro os olhos pelas páginas do mundo. Curiosa a recepção ao Papa Bento XVI: menos fiéis do que o esperado e brindado à passagem com meia dúzia de homossexuais a beijarem-se. Sinais dos tempos, talvez? Sinais identitários nunca! Em Portugal chamou-se a atenção os números da imigração: 70 a 75 mil portugueses a fugirem para o estrangeiro todos os anos, valores muto próximos dos anos de êxodo da nossa imigração em massa, sobre tudo para França na década de sessenta, mas certamente por motivos diferentes. Facto curioso é que ninguém consegue caracterizar esta imigração: quem são? Escolaridade? Para onde vão e fazer o que? Sinais dos tempos provavelmente.
Mas neste divagar não consigo fugir ao matraquear assustadoramente ritmado dos juros da dívida pública portuguesa e da tenebrosa (?) fasquia dos 7%. Substitua-se ritmado por concertado e, aqui sim, começamos a perceber que se desenham no horizonte mais sinais identitários, no sentido de uma acção concertada, do que sinais dos tempos, no sentido de uma reacção conjuntural. Mas mais preocupante é que toda esta dinâmica só faz algum sentido quando é propensamente potenciada pela comunicação social.
Foi nesta embriaguez que quase passou despercebida uma decisão de ferro como a do BES de cortar as suas ligações com a agência de cotação financeira Fitch depois da “tecnicamente inexplicável” revisão em baixa do rating dos principais bancos portugueses. Não podemos, para já, avaliar se a decisão do BES foi prudente, mas a sua decisão teve em conta o denominado Princípio da Prudência. Não o que decalca da Contabilidade, mas sim a observância mais lata que emana da dialéctica aristotélica e que nos leva a criar sistemas redundantes perante as possibilidade de ameaça e incerteza. Ou seja, o BES reagiu contra uma ameaça que configura um mal maior com uma decisão que poderá configurar um mal menor. A observância do Principio da Prudência não é um acto irreflectido, mas um acto consciente, ponderado, e determinado. Irreflectido seria deixar propagar uma ameaça, cujos contornos (ou propósitos) não são ainda totalmente conhecidos, mas cujo balanço aparentemente orquestrado com as Siglas FMI e Merkel começa a ser mais que suspeito. E a sigla Merkel vai regendo a Orquestra com uma batuta chamada comunicação social.
Infelizmente, parece que para a generalidade dos nossos decisores políticos, o Princípio da Prudência é ainda uma realidade desconhecida. E o próprio Presidente da República em nada tem ajudado.
Crônicas da Frontline
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