17 de agosto de 2011

As Amibas

Na sua definição mais prosaica, a Amiba é um protozoário do filo rizópodes, cujos elementos têm a possibilidade de emitir projecções corporais denominadas pseudópodes que são precisamente utilizados para a sua deslocação e alimentação. Mas a característica mais interessante destes pseudópodes será talvez o facto de provocarem uma constante alteração da morfologia do corpo deste organismo.

Esta amiba – a mais conhecida é a Proteus – é voraz mas inócua. Conhecemo-la, sabemos onde está, mesmo com esta sua capacidade de alterar a morfologia do seu corpo. Mas há outras amibas, por esta mesma capacidade de alteração morfológica (que neste caso passaremos a denominar de alteração ideológica) tem uma capacidade inata de se adaptarem às mudanças sociais e políticas, de ciclos, de regimes, perpetuando-se na paratização dos sistemas. Estas amibas, como as suas congéneres protozoárias dão-se bem nos ambientes pantanosos, no lodo, nos registos de incerteza, fazendo-se valer dessa extraordinária adaptabilidade morfológico-ideológica.

Mas, contrariamente ao que se pode pensar a sua génese não é parasitária. Elas não invadiram o sistema com uma pura e simples lógica de destruição ou perpetuação do seu ciclo de vida. Elas fazem parte do próprio sistema. Mais do que orgânica, a questão é cultural. Os sistemas perpetuam-se através delas e vice-versa.

É nesta lógica que se pode (e deve) entender a razoabilidade de algumas intenções que Passos Coelho tem expressado publicamente com de exigir uma avaliação de todas as nomeações feitas pelo antigo governo. Não se trata de avaliar para expurgar mas sim para perceber a lógica do sistema, de como ele permite absorver esta extraordinária quantidade de amibas. Até porque o próprio Primeiro-ministro sabe que o seu aparelho também tem, ao longo dos anos, sido responsável pelo alimentar deste incontrolável status infeccioso.

Portugal é hoje uma amiba gigante, Na política, na Administração Pública, Nas Forças Armadas (veja-se, por exemplo, o que se passou com a nomeação do mais recente Chefe de Estado do ramo), na Polícia, na Magistratura, onde quer que se vá.

Passos Coelho parece estar na loca certa. A mudança só pode ser geracional.
Crônicas da Frontline