2 de dezembro de 2008

Escrevi uma carta ao meu filho


Escrevi uma carta ao meu filho. E? Perguntar-me-ão… Nada especial, se o meu filho não tivesse cinco anos e a história não merecesse uma reflexão perante a sua reacção. Aliás, a mesma que eu fiz e me levantou algumas perguntas ou, se calhar, levantou o véu sobre algumas dúvidas. Se há coisa que o meu filho adora é ir ao correio. Quando chega a casa galopa a relva e vai buscar as cartas, como sempre fez até ao dia em que me perguntou: “Pai, porque é que nunca há cartas para mim?” Nesse dia resolvi então escrever-lhe. Não eu mas uma terceira pessoa. E a carta lá lhe foi endereçada. Quando a recebeu o misto era de alegria e estupefacção. A carta era do carteiro e perguntava-lhe se estava bem, dizendo-lhe, ao mesmo tempo, que sabia que era “um menino responsável” e que todos os dias era sua tarefa recolher a correspondência. Passou-se talvez uma semana e, quando voltei a entrar com ele em casa, correu e disse-me: “Pai já chegaram as nossas cartas”, apesar de não haver nenhuma para ele.
Apercebi-me da sua súbita mudança de discurso. O acto revelava agora um sentimento de pertença, quase uma cumplicidade de partilha e naturalmente um reforço simbólico por força de um acto tão banal.
Achei tão curiosa esta mudança comportamental ao nível do reforço do sentimento de pertença - logo do envolvimento, do commitment na perspectiva organizacional - que atrevi-me a extrapolar o exemplo para o seio desse mesmo tecido organizacional.
E perguntei-me quando gestores já escreveram cartas aos seus colaboradores, quadros, funcionários, e por aí fora? Cartas que não espelhem características funcionais ou metas atingíveis da organização, mas que sejam simplesmente cartas de enquadramento do elo humano, conferindo-lhe personalidade e isolando-o da massa amorfa que constitui o capital humano da empresa. Quantos já revelaram esta preocupação em vez de estarem preocupados com exaustivos programas de incentivos baseados em exaustivos programas de igual cumprimento exaustivo de objectivos ou por análise de exaustivas grelhas de avaliação.
A generosidade é a característica mais distintiva da liderança. Não a generosidade manifestada, mas a implícita, que reflecte um grau mais elevado de commitment no seio da organização porque, para além daquele que resulta naturalmente da cultura da empresa, acresce a mais-valia de commitment individual, do indivíduo per si. Reflexo talvez daquele reforço positivo que, muitas vezes, um gesto singelo, como uma carta, um elogio, um reconhecimento à margem “da esfera formatada de actuação” pode traduzir.
Um gesto simples, às vezes do banal quotidiano, mas sobretudo humano.
Como pais costumamos dizer que acima de tudo estão os nossos filhos… Então porque é que acima das organizações não estão as pessoas? E quando assim não é, a resposta está à vista. Afinal, donde resulta a crise financeira internacional que estamos a viver?


Crônicas da Frontline

29 de novembro de 2008

Cabovisão - Um Case study sobre como perder clientes


Num mercado altamente concorrencial como é hoje o dos prestadores de serviços na área da televisão por cabo, internet, etc., parece que há empresas apostadas em perder clientes por manifesta incapacidade em saber gerir essa relação.

Comunicar (em todas as suas dimensões, desde a publicidade à promoção de eventos) não se esgota no plano da oferta dos serviços. Um dos factores críticos resulta precisamente do conforto que os clientes sentem na relação com os seus prestadores de serviços, nomeadamente nas áreas de apoio. E neste domínio a comunicação é um factor de extrema importância. Logo, uma das principais falhas resulta no estereotipo de actuação por força do atendimento estruturado em Call Centers. Na generalidade, pouco se evoluiu neste segmento, embora hoje a Banca já possa ser um exemplo de referência de algumas boas práticas. Agora, cada caso é um caso e não pode ser gerido com base num discurso pré-formatado dirigido a uma massa amorfa (a maneira como o prestador vê os seus clientes: "são todos iguais"). Isto para já não falar na baixa qualidade e preparação dos recursos humanos empregues nesta actividade.

Neste contexto, o caso da Cabovisão é paradigmático. Para além de não ter a capacidade de comunicação dos seus principais concorrentes (Zon, Meo), nas outras áreas em que poderia tentar marcar a diferença - nomeadamente na relação do serviço de apoio a clientes - não consegue fazê-lo. Antes pelo contrário.

Um pequeno exemplo ilustrativo que se passou comigo:

Tive uma avaria no telefone. Consegui com algum custo que ao fim de três dias viessem ver o que se passava. Não apareceram. Contactei o apoio ao cliente e a resposta que recebi foi mas afinal o que pretende é remarcar uma nova deslocação? Fui acometido por uma fúria avassaladora. Mesmo assim e sem um esclarecimento aceitável ou um pedido de desculpas lá remarquei. Mais dois dias à espera. Voltaram a não aparecer. Fiz uma sessão de ioga antes de voltar a contactar o serviço de apoio a clientes. A resposta foi de espantar. Os técnicos estiveram no local. Esclareci a menina (dos tais Call Centers) que era mentira pois eu próprio tinha estado à espera. Depois de verificar a situação disse-me que afinal não tinham estado mas tinham tentado contactar. Voltei a esclarecer a menina que era impossível pois não tinha recebido nenhuma chamada no meu telemóvel, a menos que tivessem estado a tentar contactar para o telefone que estava avariado. Depois de nova verificação disse-me que o contacto tinha sido feito para o número tal. Disse-lhe que esse número não era meu. Respondeu-me Ah pois! Veja-se que neste caso todo nem tiveram o cuidado de verificar se os contactos do cliente estavam correctos ou actualizados.

Depois desta saga fiz mais uma exposição por escrito. Recebi no dia seguinte, hoje, uma resposta extraordinária da Cabovisão - confirmamos tudo o que a assistente lhe disse ao telefona e faça então uma nova remarcação de assistência - ponto final.

Felizmente que o mercado já oferece muitas e boas soluções alternativas.

Quanto a quem ainda é cliente da Cabovisão fica um conselho: mudem rapidamente antes que sejam postos à prova num confronto de mediocridade, falta de respeito e de uma manifesta incapacidade empresarial para quem vive dos seus clientes.
É curioso o logo da própria empresa: Possibilidades infinitas...

26 de novembro de 2008

Dois dedos na ferida


Como referi no post anterior, volto ao tema da análise que o LPM faz sobre o endosso de candidatos em Portugal, a qual revela dois eixos muito interessantes mas que considero antagónicos. É um facto que, e ai estou de acordo, com o que afirma: “diferença deriva do facto de as campanhas eleitorais portuguesas serem “centrípetas” – isto é, caminham para o centro -, enquanto as norte-americanas são “centrífugas”, isto é, evoluem para os extremos.
Mas a questão por responder é precisamente porque é que são centrípetas? E ai estará talvez a resposta, não para vermos uma menoridade relativa dos nossos sistemas político e mediático, mas sim uma imaturidade democrática num país que ainda vive um jogo viciado. De facto, tudo está ao centro o que força a que não exista uma delimitação de papeis bem clara e definida entre os vários sectores (Poderes) da sociedade portuguesa. Diríamos que a simbiose é perfeita e o sentimento de orfandade de uns sectores para os outros ainda é excessivamente presente. A generalidade dos protagonistas acaba por ser transversal nos seus percursos, interesses e aspirações. Media, Política, Justiça ou Economia muitas vezes confundem-se por esta mesma proximidade estrutural. E a própria Comunicação Social ainda não conseguiu cortar este cordão umbilical.
É que não esqueçamos que em Portugal a separação de poderes ainda é apenas um pré-requisito da Democracia esgotado apenas no plano formal. O que nos separa então dos Estados Unidos, por exemplo? Talvez 200 anos de vivência democrática…e uma capacidade mobilizadora e interventiva da sociedade civil, mesmo até em novas formas de organização política.

25 de novembro de 2008

O dedo na ferida?


Interessante, sem dúvida, o alerta deixado pelo Rodrigo Saraiva, remetendo para um texto de Rui Cádima intitulado “O perfil dos jornalistas e a claustrofobia reinante”. Conheço bem Francisco Rui Cádima. Foi meu professor na Universidade Nova e é reconhecidamente um dos grandes especialistas em matéria de Televisão.
Mas quanto a este seu texto não podia estar mais em desacordo. Aceito muitas das ideias expressas no seu enquadramento, mas a análise acaba por reduzir tudo a um mínimo denominador comum: a alegada promiscuidade entre protagonistas, nomeadamente Jornalistas / Assessores. E esta alegada promiscuidade, senso lato, quanto muito é apenas um pequeno arranhão em todo este problema, muito menos um dedo na ferida. Mesmos os exemplos citados são maus vindos de quem vêm: Carrilho e Pacheco Pereira.
Há questões estruturais que explicam as intrincadas teias de relacionamento entre os Media e Grupos de Interesse, em Portugal, sejam políticos, económicos ou de qualquer outra natureza. E algumas explicações podem até ser encontradas através de uma análise muito interessante que Luís Paixão Martins fez, pese embora noutro sentido, ao focar a questão do não endosso a candidatos políticos por parte dos jornais portugueses. Mas a esta voltarei mais tarde.
Porque, para além das razões estruturais, existe uma outra que é fundamental, mas do domínio do plano individual: trata-se da ética. E estou à vontade para falar deste tema porque já ocupei os dois lados da barreira. Nunca senti constrangimentos, pautado naturalmente pela observância de estritas regras de conduta ética e deontológica em qualquer dos meus exercícios profissionais. Mas pergunto, a título de exemplo, com base nesse mesmo raciocínio primário: então um jornalista não pode ter amigos na política? Não pode ter familiares? Ou é só o facto de ter sido assessor que o torna um elemento promíscuo?

24 de novembro de 2008

O Quinto Poder


O que se está a passar com o caso BPN do ponto de vista mediático (mais ainda tendo em consideração o pretenso “comunicacional” envolvimento do PR); notícias recentes publicadas, algumas que fizeram manchete e depois tiveram de ser prontamente desmentidas; a prática recorrente de descontextualização de afirmações (caso MFL em que a Lusa foi um protagonista activo) fizeram-me lembrar a grave crise de credibilidade que a imprensa francesa atravessou há uns bons anos atrás, face a uma opinião pública que praticamente deixou de acreditar nos seus jornalistas. Até títulos intocáveis como o Le Monde acusaram este abalo.
Em Portugal começa a dar a sensação de que, neste domínio, se estão a trilhar caminhos perigosos. Basta estar atento ao escrutínio rigoroso que se começa a fazer sobre as “verdades que os media divulgam”. Já não são só os blogues, mas é o sentimento geral da generalidade de comentários que são produzidos por essa extensa massa a que chamamos de opinião pública. Este Quinto Poder começa a ganhar forma, por enquanto apenas enquanto movimento promotor desse mesmo escrutínio e as “primeiras vítimas”, atendendo ao posicionamento opinativo de alguns jornalistas/comentadores, podem estar já ao virar da esquina. O próprio PR já deu o mote para a sociedade civil se poder organizar neste domínio. Resta saber se o denominado Quarto Poder sobreviverá, nos moldes actuais, a este Quinto Poder.

13 de novembro de 2008

Future Tense: The Global CMO


De leitura recomendada o paper publicado pela Economist Intelligence Unit e patrocinado pelo Google sobre os desafios globais colocados aos Chief Marketing Officers.


To better understand how the role of CMO is evolving to address the rapid changes in technology, consumer behaviour, and the media landscape, Google has sponsored "Future Tense: The Global CMO." The whitepaper presents the results of a global survey of more than 230 senior marketing executives, including interviews with more than 20 CMOs and top marketing executives at global companies.

6 de novembro de 2008

Intoxicar Perigosamente


“Enquanto dirigente do PS condeno veementemente que, qualquer que seja o nível de descortesia de um deputado, esse deputado seja coarctado nos seus direitos e no seu direito básico à imunidade parlamentar”, afirmou o ministro Santos Silva à Lusa a propósito do recente incidente com o deputado PND na Assembleia Legislativa da Madeira.
Mesmo que ostente símbolos nazis na “salutar retórica político parlamentar” o que, em Portugal, é um crime punível por lei.
Ou seja, o que o ministro diz é que no debate político vale tudo, desde que seja no Parlamento claro! Ou não seja este senhor Ministro dos Assuntos Parlamentares.
Mais uma vez impera a necessidade comunicacional de criar ruído, de ocupar espaço, a tudo o custo sem medir consequências. Sem analisar os precedentes perigosos que se abrem. Sem discernir o forte contributo que este senhores dão para a descredibilização da classe politica. Não só os que os cometem, mas sobretudo os que os sancionam.
Para já não falar na legitimidade. Um exemplo: com que legitimidade se insurgem os poderes públicos contra um cartaz do PNR alegadamente xenófobo quando avalizam a utilização de símbolos nazis para insultar o presidente de um Governo Regional da República Portuguesa?

5 de novembro de 2008

Intoxicar - Intoxicar - Intoxicar


Cada vez se torna mais claro que a propagada eficácia comunicacional do Governo é afinal uma política de intoxicação bem sucedida. Mas a precipitação de tomadas de posição pela necessidade de ocupar apenas espaço comunicacional (que a oposição tem de uma forma confrangedora deixado livre) sem ser avaliada (e ponderada) uma correcta construção de argumentos está a abrir precedentes perigosos.
Atente-se ao contributo hoje dado pelo ministro Teixeira dos Santos ao comentar as falhas de supervisão apontadas no caso BPN: “O que falhou não foi o facto de o Banco de Portugal não ter feito o que devia ter feito, foi alguém ter feito o que não devia ter feito”.
Imagine-se, por exemplo, amanhã as autoridades de segurança negligenciarem a sua missão e sermos confrontados com uma problema sério no País. O álibi está construído: os terroristas é que não deviam ter feito o atentado…
Mas mais confrangedor é o silêncio de todos e o sentimento de impunidade cada vez mais reflectido na esfera da Propaganda.

Quem tramou Portugal?



Nos últimos tempos, talvez por falta de matérias mais profundas para reflectir, tenho-me debruçado amiúde sobre as razões que possam explicar este reiterado atraso crónico do nosso País em relação a tudo e a todos: o chamado lanterna vermelha do mundo ocidental e civilizado. Estamos cansados das análises de traços sociológicos, culturais, dos denominados atrasos estruturais, da falta de competitividade, da culpa do isolacionismo do Estado Novo… tudo explica tudo, mas nada explica nada.
Tem forçosamente de haver mais qualquer coisa que, naturalmente ligada a um complexo conjunto de factores entre os muitos que enumerei atrás, explique esta passividade agonizante de um Portugal que se quer afirmado, moderno e europeu.
Não sou um profeta da desgraça, antes pelo contrário, e sinto-me tentado a uma abordagem mais pragmática para compreender esta inacção que ainda hoje atinge o espaço luso, apesar do esforço de muitos e bons portugueses.
Imaginei uma viagem pela história, não ao passado, mas sim se tivesse capacidade de trazer ao tempo presente alguns daqueles que marcaram o nosso rumo nestes oito séculos de caminho e avaliar a suas opiniões.
Imagino D. Afonso Henriques a entrar por São Bento e correr a maioria dos parlamentares a fio de espada gritando “vão trabalhar malandros. Foi para isto que passei 40 anos a cavalo a empurrar espanhóis e mouros de Guimarães para baixo…”. Logo, o sistema político faliu.
Imagino o Intendente Pina Manique a ler o novo código penal e a ter de abdicar dos seus métodos eficazes de combate ao crime. Logo, o sistema judicial faliu.
Imagino D. Sebastião a entrar no comício da rentrée do Pontal a exclamar: “Porreiro pá! Não me digam que ainda estão à minha espera?”. Logo, ficámos reféns da esperança e continuamos (apenas) a ter esperança em dias melhores.
Por aqui continuaríamos num desfilar infindável de personagens se não tivesse descoberto outro obstáculo intimamente ligado ao nosso desaire. Falo da sabedoria popular, esse interminável acumular de saber e bom senso que, mal utilizado, se pode tornar numa arma terrível contra nós.
Veja-se o “óptimo é inimigo do bom”. Nunca procurámos a excelência, não arriscamos, temos medo de ir mais além. Ficamos confinados ao bom. O problema é quem é que define o que é bom? Atente-se, por exemplo, àquela máxima de que “a sorte é aquilo com que os medíocres tentam explicar os feitos dos génios”. Na realidade, não acreditamos no sucesso. E se temos tantos rotulados de sortudos neste país, imaginem exponencialmente qual será o número de medíocres?
A galinha da vizinha é sempre mais gorda que a minha e, logo por azar, temos Espanha ao lado.
Imagino que diriam D. João IV e Dona Luísa de Gusmão ao retornarem ao Terreiro do Paço: “Não nos digam que o Miguel de Vasconcelos não morreu?
Na realidade, tudo não passa de um grande engano. O problema parece ser afinal uma interpretação errónea da nossa Cultura e da nossa História. Acidental ou imposta? O que já percebemos é que o sistema político faliu e outros se seguem neste país. Ainda bem. Pode ser que assim as estruturas cristalizantes libertem finalmente os rasgos da individualidade, que novos sistemas possam emergir, que se estimule a ousadia e a vontade de querer ser.
Venham Viriatos, Reis ou conjurados. Adeus à redundância, aos políticos, aos economistas, aos jornais, à televisão.
É tudo uma questão de Querer é Poder. Senão, como diz o povo, nunca mais passamos “da cepa torta”.

Crônicas da Frontline

3 de novembro de 2008

Uma divertida lição sobre Racismo

Ou um bom exemplo de que o humor não compromete a Comunicação dos compromissos mais sérios, quer políticos, quer económicos, quer sociais, quer culturais. Uma boa causa tem sempre um inquantificável potencial de adesão.
A inteligência (leia-se comunicacional) está em jogar com as nossas predisposições psicológicas mais elementares). Talvez por isso muitas campanhas que optaram por introduzir imagens "de horror" para induzir mudanças comportamentais tenham, na generalidade, falhado (lembram-se, por exemplo, de algumas da Prevenção Rodoviária Portuguesa). Esta lógica tem, no entanto, prevalecido quando se procura uma reacção imediata e de vigência temporal muito curta (para uma angariação de fundos, por exemplo). Matéria para reflectir...

23 de outubro de 2008

Todos diferentes, todos iguais...uma treta


Leitura Obrigatória


Recomendo uma leitura atenta de um texto da autoria de Fernanda Ló, publicado na Edição de Outubro da Revista Frontline, sobre a importância da Imagem e a problemática dos Deficientes.

Recomendo não só a nós Comunicadores, mas a todos, Pais, Educadores e todos os que possam ser agentes promotores de mudança. Como diz a autora (em dois excertos que aqui transcrevo):

"A importância da imagem, principalmente a imagem do deficiente (porque há muito deficiente que não tem “esse” comprometimento na imagem) reflecte a maturidade humana e cultural de uma comunidade. Neste domínio, infelizmente os portugueses ainda vivem na idade das trevas."

"...A importância da imagem foi desprovida de pudor quando o célebre fotógrafo Toscani (o fotógrafo da Benetton) mostrou a sua campanha ao Mundo. Tanto nos chocou! E se Toscani tivesse pegado não na diferença étnico/racial mas sim na diferença que aqui comento? Talvez fosse uma ajuda na mudança, pois o que chocou passou a ser moda. A minha filha tem uma t-shirt da dita marca com um pretinho e uma branquinha a beijarem-se. Toscani podia ter pensado na menina com Síndrome de Down, abraçada ao menino com Paralisia Cerebral. Seria vendável?"

Vale a pena uma reflexão...

21 de outubro de 2008

Por falar em Protocolo...

Li uma interessante peça política num jornal de referência em que a legenda sob uma foto do Presidente da República e o Primeiro-ministro referia (a negro e pretendendo talvez ter uma segunda leitura): Na última cerimónia do 5 de Outubro, Cavaco e Sócrates estiveram sentados lado a lado na Praça do Município em Lisboa.
Independentemente das leituras, estiveram assim sentados por que é Protocolar. É assim e ponto final.
Será talvez interessante lançar um debate aberto sobre algumas questões protocolares. O Protocolo é mais que um rito cerimonial... é sobretudo um Instrumento de Poder.

Quem não sabe é como quem não vê!


A situação que a foto traduz não é mais que uma enorme gaffe protocolar. Os momentos que parecem mais fáceis de gerir afinal são aqueles que revelam mais vulnerabilidade, mais ainda quando as possibilidades de exposição pública estão presentes.
Mas, do ponto de vista protocolar, gerir estes momentos é duma simplicidade extrema. Não se trabalha com pessoas, trabalha-se com números e com uma boa equipa de protocolo. É a lógica do óbvio e já aqui escrevi sobre isto.

Acreditem que sei do que falo. Tive a sorte de, durante uns anos, gerir um grupo dos melhores profissionais de Protocolo que há neste país. Pena seja que já nenhum reste nestas funções...

16 de outubro de 2008

Os Avessos



Fiquei recentemente a saber que Manuel Jarmela Palos também pertence ao grupo dos avessos deste País. Neste caso ao grupo dos comunicacionalmente avessos, já que o actual Director-geral do SEF revelou que é avesso a dar entrevistas. Aliás, da referida entrevista dada ao Expresso resultam apenas dois aspectos a reter: o desaire da entrevista e o facto, este mais preocupante, desse mesmo desaire não resultar da sua condição de avesso, mas sim de uma aparente ausência de estratégia de comunicação e consequente enquadramento e aconselhamento nesta matéria.
Jarmela Palos pode ser avesso pelas razões que entender, mas o cargo que ocupa obriga-o a ter uma relação de proximidade, não só sua, como do serviço que dirige que tem, evidentemente, uma multiplicidade de públicos. Essa relação (que passa em grande parte pela relação com a comunicação social) obriga naturalmente a uma prática profissional e responsável. Nada disso revela a entrevista ao Expresso. Aliás, nesta matéria, também não se vislumbrou até hoje uma prática consolidada no que respeita, senso lato, à Comunicação por parte do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras.
O que a entrevista do Director-geral do SEF nos trouxe foi um mau préstimo ao País e ao serviço que dirige. A mensagem que passa, só contribui para cimentar o clima de insegurança que actualmente se vive na sociedade portuguesa, bem como revelar, numa indisfarçável confusão, a incapacidade do SEF para fazer o que quer que seja. Naturalmente não foi isto que aquele responsável máximo quis dizer, nem tão pouco o contexto em que o disse. Não importa. O que revela é a percepção que se constrói sobre o que foi dito. E aqui entram elementos fundamentais: um bom aconselhamento em matéria de Comunicação, uma sólida estrutura na construção de argumentos com base no referencial em que a entrevista se vai situar, e uma adequada preparação da mesma.
Aparentemente tudo isto falhou. Jarmela Palos poderá sempre ser avesso a dar entrevistas. Não pode é ser avesso a construir uma boa estratégia de comunicação para o SEF, mais ainda tendo em conta a sua ampla esfera e sensibilidade de actuação.
Crônicas do OJE

15 de outubro de 2008

Da ficção à realidade?


Barak Obama está na recta final e as últimas sondagens dão-lhe 14 pontos de diferença à frente de John McCain. Do que conhecemos das nossas maduras democracias europeias, esta diferença entre candidatos a escassas três semanas das eleições representavam, não só uma vitória certa, mas sobretudo uma vitória esmagadora para o candidato melhor posicionado. Nesta linha de raciocínio, um dos temas mais interessantes desta fase final de campanha, mas que pouco debatido vi, acaba por se sintetizar numa frase: Porque não cantam já vitória os Democratas? E a resposta obviamente não expurga os fantasmas do denominado efeito Bradley ou não fosse Obama de cor. Mais agudizante é esta questão quando afinal o número de indecisos (pelo menos segundo revelam as mesmas sondagens) ainda é grande. Na realidade, toda uma campanha pode não depender da validade das proposta dos candidatos, mas sim de factores de indefinição como a raça. Para os que não conhecem , o conceito do efeito Bradley resultou do Congressista afro-americano Thomas Bradley que, em 1982, foi derrotado na eleição para Governador da Califórnia apesar de surgir destacado à frente em todas as sondagens.

Este é, porventura, o verdadeiro retrato da América que não conhecemos. Mas neste quadro, não deixará de ser curioso equacionar outro exemplo, como que numa abordagem do outro lado do paradigma.

Todos estamos cientes (e a História tem sido pródiga em nos mostrar isso mesmo) como a poderosa máquina cinematográfica dos EUA (enquanto instrumento de Comunicação) tem sido capaz de moldar a realidade política, económica, social, cultural, da sua sociedade americana. Num exemplo desta esfera brutal existe uma série da FOX que teve um reconhecido impacto, dentro e fora fronteiras. Falo da "24" com Kiefer Sutherland. Intensa, brutal, dramática, mas curiosamente onde os dois presidentes americanos que personificam o ideal de audácia, patriotismo, determinados, incorruptíveis, verdadeiros Homens de Estado, David e Wayne Palmer, são precisamente... negros.

Da ficção à realidade?

O Day After


Escrevo estas linhas e ainda Nuno Morais Sarmento não acabou a sua entrevista ao Dia D na SIC notícias. A primeira imagem que me veio à mente foi daquelas noites de arromba em que todos dizíamos agora o que vai custar é o Day After. De facto, Morais Sarmento não foi ao dia D foi ao Day After e pouco se aproveitou da sua ressaca televisiva.

Apenas alguns pontos a reter:

É notória a incapacidade do PSD em construir figuras de alicerce para veicular a sua mensagem política;

É notória a incapacidade do PSD em ter um discurso alinhado numa estratégia clara de comunicação política. A confusão de argumentos (do ponto de vista da sua construção e legitimação) gera dissonância e amplifica um dos efeitos mais perigosos (mas pouco debatido) da Comunicação, o da falsa propaganda.
Porque a Propaganda (como a definimos hoje) tem pleno enquadramento na acção política (embora seja matéria discutível) mas carece sempre de uma base de sustentação programática. Nem isto o PSD consegue fazer;

Percebe-se o que Nuno Morais Sarmento tentou fazer: introduzir uma credibilidade protagonizada e de protagonista, ensaiando um discurso de responsabilidade política no sentido lato. Uma estratégia apontada em dois eixos de actuação que visa, por um lado, retomar um discurso de intervenção acima das meras questões partidárias (um modelo bem ensaiado por Cavaco Silva) e, por outro, esconder a incapacidade da sua família política em dar respostas concretas em matéria de políticas alternativas à actual governação.
Tudo isto não faz sentido a um ano das eleições quando para trás ficaram três anos de silêncio, por inacção ou porque o espaço de intervenção e comunicação foi habilmente ocupado por outros;

Morais Sarmento parece hoje pouco mais do que um paladino à procura da “virgindade perdida”. De facto, como bem referiu, Portugal evolui de uma forma extraordinária nestes últimos 30 anos. Mas os portugueses também…por isso já não há espaço para “Conversas em Família”.

11 de outubro de 2008

Giving a pub to an alcoholic




A afirmação pertence ao Gerry McGovern, fundador da Customer Carewords, e reconhecido internacionalmente como um dos gurus em matéria de gestão de conteúdos no domínio empresarial.
Há muito que acompanho as suas ideias e o que vai escrevendo e recomendo a leitura deste seu artigo recente. Tanto mais que a lição não se aplica só à gestão de websites.

10 de outubro de 2008

Vasculhar, vasculhar, vasculhar


À medida que a hipótese mais que provável de PSL avançar para a Câmara de Lisboa vai ganhando corpo sobe exponencialmente o grau de nevorsismo lá para os lados dos Paços do Concelho. Contou-me um amigo lá para os lados do Alto de Santo Amaro que a ordem agora é vasculhar tudo e todos para encontrar matérias que possam criar e amplificar ruído na comunicação social (parece que o vereador das finanças anda muito ocupado). Mas agora com mais cautela, já que o alegado e propagado Lisboa Gate parece não estar a correr muito bem. Tudo isto mais agudizante quando para aquelas bandas também muitos começam a ganhar consciência que o combate no plano político nunca lhes será favorável. Esse mesmo combate que as democracias entendem como saudável e o que mais pode efectivamente aproximar os cidadãos/municípes de uma escolha esclarecida.
Resta saber que Poderes (no sentido lato) vão embarcar neste modus operandis?

Mais casinhas

Como diria Orwell: "some pigs are more equal than others". Afinal parece que a transversalidade do fenómeno de atribuição de casas na CML (que já aqui referi) ao longo destes muitos e últimos anos também é mais transversal para alguns do que para outros (quer nos dadores, quer nos felizes contemplados). Veja-se o título do Público sobre um ex-deputado do PS: Ex-deputado Fernando Ka paga 5,60 euros de renda à CML.
Mas cuidem-se. É que muito mais ainda está para vir...

Pro Bono comunicacional precisa-se


Em resposta à polémica instalada em torno da atribuição de casas pela CML João Soares responde "eu fui o único presidente que não habitou a casa de Monsanto". Mesmo assim veio agora a saber-se (por mão do seu amigo Costa em abono da transparência) que foi no seu mandato que foram atribuídas mais casas. Questão 1: o que é que a casa de Monsanto tem a ver com tudo isto? Questão 2: mais uma vez João Soares revela a sua total incapacidade em gerir o universo da comunicação. Uma vez que (aparentemente) já não pode contar com o apoio das máquinas socialistas nesta matéria será que existe alguém que lhe possa dar uma ajuda? Apenas em abono da dignificação do exercício do Poder autárquico já que o fenómeno de atribuição de casas é, até ver, transversal a todos e a todas as forças políticas.

6 de outubro de 2008

O espelho não mente

Recomenda-se uma leitura atenta do artigo publicado no OJE pela Carla Guedes, Directora-geral da Reputation, sobre a problemática das auditorias de comunicação.

5 de outubro de 2008

Ensaio sobre a estupidez (II)



Mais uma pequena nota sobre o universo dos invisuais. Vale a pena ver este anúncio. Não deixa de ser publicidade, mas a mensagem ultrapassa-a em muito. É universal. Para os Saramagos deste mundo...

3 de outubro de 2008

Ensaio sobre a estupidez


Pessoalmente não gosto de Saramago, não gosto da sua escrita, não gostei da atitude de outrora para com o seu País. Estou no meu direito assim como Saramago está no seu para emitir as opiniões que entende por bem.
Agora muito menos gosto de Saramago face às suas públicas posições por força das críticas ao filme de Fernando Meirelles baseado na sua obra “Ensaio sobre a Cegueira”.
Utilizar argumentos para denegrir uma representativa associação norte-americana de pessoas invisuais como acusá-la de “ter uma opinião sobre um filme que infelizmente não pôde ver” é, no mínimo, intolerável. Mais que não seja é reduzir um invisual à condição de estúpido só porque está apartado de uma parcela sensorial.
É um discurso que, pelo menos na sua forma, se aproxima perigosamente de doutrinas que consideramos inaceitáveis.
Poderia ter sido uma gafe? Saramago expressou-se mal? Duvido! A reacção é típica do “acossado” que se julga intocável.
Saramago tem naturalmente todo o direito a defender a sua posição, mas tem sobretudo a obrigação de o fazer de uma forma responsável.
Por isso mesmo, o exemplo poderá servir muito bem a quem efectivamente tem responsabilidades neste país, sejam pessoas, sejam organizações. Mas também aqui, em casos como este, os players (consultores) neste universo da Comunicação têm a responsabilidade de intervir. Debatendo, denunciando, protegendo e sobretudo credibilizando a sua esfera de actuação perante poderes, instituições e opinião pública.

Resgate fiscal ou resgate comunicacional? (II)

Sobre o que atrás escrevi, acentuei a tónica da eficácia fiscal também para esta reflexão que se segue:
A (propagada) eficácia fiscal é tão grande que a vou colocar a questão do outro lado da amurada. Um comunicado de um contribuinte hoje divulgado revela que foi enviado 1 email a 1 Serviço do Estado, notificando pela prática de crime de incompetência. Isto porque no exercício de 2006, a DGCI lhe cobrou 248 euros de juros, com base num processo de 1996 que afinal está liquidado. Os técnicos das finanças conseguiram, por fim, apurar que esses juros tinham sido indevidamente cobrados e, para além disso, calculados com base num valor que é dinheiro que o Estado afinal tem para reembolsar ao contribuinte. De uma forma simples: cobraram juros sobre o dinheiro que devem. Passado um ano, para além de não terem ainda resolvido a situação, voltaram no IRS de 2007 a cobrar novamente os mesmos 248 euros de juros, com base no mesmo processo e calculados sobre a mesma dívida que tem para com o contribuinte.
Urgente: Resgate precisa-se…

Resgate fiscal ou resgate comunicacional?


Os comunicados da DGCI não param de me surpreender e contribuir para aumentar o sentimento de que a estratégia de comunicação da máquina fiscal (leia-se Estado/Governo) é apenas uma ferramenta propagandística de carácter intimidatório contra o contribuinte.
Atente-se ao comunicado divulgado hoje sobre a Operação Resgate Fiscal, através do qual ficamos, entre outras coisas, a saber que a DGCI recuperou 54 031 milhões de euros, notificou 4672 empresas , instaurou 305 processos crime e emitiu 198 047 emails a 45 667 contribuintes.
Que relevância tem este tipo de informação para o contribuinte? Então que pressupostos estão em jogo? Tentar passar uma imagem de competência de um organismo público em que a relação dominante com os cidadãos é conflituosa? Servir de almofada de conforto para legitimação de discurso político de eficácia fiscal por parte do Governo? Ou é apenas uma ferramenta propagandística de carácter intimidatório ao contribuinte?
Porque bases para um exercício responsável, assente numa comunicação transparente e até pedagógica, não encontro nenhumas.
A democracia não se constrói apenas com base no livre exercício do direito de voto. É fundamental a relação (de respeito) do Estado com o cidadão. E, neste domínio, a Comunicação assume um papel fundamental.

Mudem-se os Tempos...


A questão das métricas em PR que o António Marques Mendes levanta (novamente) hoje é, de facto, um paradigma interessante de analisar numa perspectiva que nos leve a encontrar alguns factores inibidores para avançarmos neste domínio.
Por exemplo, uma eficaz avaliação, senso lato, da Comunicação, seria condição essencial para adoptarmos esquemas de remuneração por objectivos, em substituição das tradicionais avenças por prestação de serviços. Os reflexos seriam também óbvios nos processos de envolvimento Cliente/Consultores, mas obrigavam a uma profunda mudança na “mentalidade de gestão” da generalidade do tecido organizacional das instituições em Portugal.
O consultor de comunicação não pode ser um “corpo estranho à instituição”, nem menos uma figura de segunda linha quando este aparente estigma de anticorpo é ultrapassado.
Esta é apenas uma das mudanças necessárias entre muitas outras, como muito bem alude o Miguel Albano.
Por isso mesmo para quê mudar. De facto, o actual status quo é muito mais confortável para todos. Excepto para aqueles que tem uma verdadeira visão de consultoria em Comunicação. Mas a esses cabe também a grande responsabilidade de induzir esta mudança de mentalidades. Como, por exemplo, recusando trabalhar em condições de envolvimento Consultor/Empresa em que sejam meros prestadores de serviços (embora em alguns casos esse modelo deva ser adoptado), mesmos que isso tenha custos financeiros no curto prazo.
Porque, no médio prazo, este exercício bem entendido na vertente pedagógica, permitirá, para além de mais, separar o trigo do joio.

29 de setembro de 2008

As competências básicas e a lógica do óbvio


Outro dia recebi um telefonema inesperado da minha mulher que me trouxe à luz de uma forma que, até então, nunca tinha equacionado, algo que considero um dos problemas mais (saiba-se lá porquê) ignorados e que afectam seriamente a alegada competitividade (ou falta dela) dos portugueses.
Dizia-me a minha mulher ao telefone em tom já de desespero: “sabes enfiar a porcaria de uma folha na máquina de escrever Braille?”. Naturalmente respondi que não fazia a mínima ideia. Mas porquê? Ainda indaguei. A resposta foi surpreendente: “Vê bem a ironia. Estamos aqui na faculdade a preparar um trabalho para o mestrado, todas temos competências, não só para ler como para escrever correctamente em Braille, mas não conseguimos enfiar a porcaria da folha na máquina”.
A ilação a retirar deste episódio é simples. Na realidade, aquele grupo, por mais competências avançadas que tivesse, não conseguia ultrapassar a falta de uma competência básica para atingirem um determinado objectivo. Neste caso, a colocação de uma simples folha de papel numa máquina. E porquê? Por duas razões que se opõem consoante os protagonistas deste episódio. Por um lado, na óptica do professor que sempre se preocupou (em ensinar) com tudo o que não era óbvio, ou seja, por exemplo, o colocar a folha na máquina. Na óptica dos alunos, porque o objectivo era adquirirem as competências avançadas programadas e nunca pensaram no mais óbvio: um dia talvez precisassem de colocar a folha na máquina. Até porque sempre que precisaram a folha já lá estava. Também é óbvio que, por força da arte e do engenho conseguiram ultrapassar a situação. Só que o custo foi elevado. Consumiu muitos mais recursos, materiais e humanos, mas sobretudo abalou um alicerce fundamental, o da segurança do indivíduo e do reconhecimento intrínseco das suas capacidades.
Este raciocínio leva-nos a uma conclusão que nos remete obviamente para a aceitação de um novo paradigma: As competências básicas são tudo o que não está para além do óbvio. Logo, as competências básicas não são conteúdos programados para aprendizagem. Não existe distinção entre estas e as outras competências, sejam básicas ou avançadas. Umas são naturalmente produto da aprendizagem programada; as outras são produto da experiência, mais concretamente do co-relacionamento das competências adquiridas do ponto de vista programável (na escola, na universidade, na formação profissional) com a vivência induzida pelo universo dessas experiências. E estas têm ainda um reflexo enorme sobre um dos aspectos mais relevantes no domínio humano, o da Liderança até porque inibem precisamente o estigma do fragilizar da segurança individual.
Um resultado não óbvio deste paradigma. Se um dia me pedissem para contratar quadros de elevado potencial para uma empresa colocava três critérios eliminatórios logo à partida: terem mais de 40 anos, pelo menos dez empregos anteriores em áreas diferenciadas, embora com um tronco comum e um elevado sentido de humor. Isto é obviamente o contrário dos que os especialistas em recursos humanos fazem hoje em dia. Logo, é óbvio que lhes falta qualquer coisa…


PS: a parte do sentido de humor explico mais tarde.


Crônicas da Frontline

25 de setembro de 2008

Quo Vadis Lex (II)


Ainda recentemente abordei numa crônica no Oje, e que aqui reproduzi, a problemática da relação do mercado dos serviços jurídicos em Portugal com a esfera da comunicação ou, mais genericamente, o enquadramento do marketing legal no nosso país. E escrevi com alguma inquietação e preocupação sobre a alegada voragem comunicacional que se instalou neste sector, em particular nas sociedades de advogados, sobretudo dominada por uma luta de visibilidade. Ainda esta semana, acompanhando o que se vai publicando (nos poucos suportes de media que assim compreensivelmente existem) fui confrontado com o mesmo panorâma desolador. Aliás, vejo até agora sugerirem critérios diferenciadores entre algumas sociedades como a área de escritórios (em m2) que ocupam.

A questão básica a que começo, cada vez mais, a ter dificuldade em responder, é que sentido existe na Comunicação das sociedades de advogados, regra geral, no nossso mercado. Comunicam para quem? Para quê? Com que objectivo?

Queixam-se que o panorama de media na área jurídica é restricto? Será que é difícil compreender que maturidade comunicacional do sector jurídico é fundamental para o seu crescimento editorial neste domínio. Há excepções, felizmente...mas ainda sem força para romperem este estado de letargia animado apenas por pressupostos de afirmação egoísta e sem a preocupação de produzirem informação consistente, objectiva, útil, que consolide a gestação reputacional dos seus autores, quer sejam advogados, sociedades de advogados ou outros players neste abrangente universo.

E quando comparamos Portugal com outros mercados do ponto de vista do marketing legal então é que compreendemos a verdadeira extensão deste atraso estrutural (ou talvez lhe deva chamar Comunicacional).

19 de setembro de 2008

Iconografia

As imagens valem mil palavras. Acrescentei uma pequena nota iconográfica que espelha na essência o que se vai fazendo neste blogue. Por enquanto ainda podem dormir descansados. Um agradecimento ao José Machado por esta contribuição.

Parabéns ao Nuno


O meu querido amigo Armando Nuno Carneiro, director das publicações HV, foi distinguido com o Prémio “Friends of Thailand”, na categoria Media Internacional, pelo contributo prestado ao Turismo da Tailândia, através da publicação de artigos de relevo nas revistas que tem editado ao longo destes últimos anos.

A Autoridade de Turismo da Tailândia (TAT) atribui, pela primeira vez, o Prémio “Friends of Thailand” a um jornalista português e a cerimónia, que terá lugar no próximo dia 27 de Setembro, em Banguecoque, será presidida pelo Primeiro Ministro Tailandês.

Os prémios “Friends of Thailand” são atribuídos bianualmente a personalidades e organizações que tenham contribuído de forma decisiva para a divulgação da Tailândia enquanto destino turístico. Desde que os prémios foram introduzidos, em 1996, a TAT já entregou 356 prémios, em 57 países. Até hoje, apenas um operador turístico português tinha sido distinguido pelo Turismo da Tailânda.

17 de setembro de 2008

Não tem nada que saber...

"Nós sabemos do assunto mas não nos vamos pronunciar. Escusa de voltar a ligar".
Esta afirmação lapidar foi a resposta dos responsáveis do Grupo Trivalor ao Jornal de Negócios quando questionados sobre as supeitas de cartelização pela Autoridade da Concorrência (AdC) no fornecimento de refeições a serviços públicos.
Como ainda é estranho este grande universo da Comunicação para grande parte do tecido empresarial português.

16 de setembro de 2008

No Afeganistão

Vale a pena sinalizar e louvar esta inicativa da Força Aérea Portuguesa. A FAP lançou uma página na Internet sobre as suas missões no Afeganistão. Será sobretudo uma canal de aproximação dos familiares dos militares destacados para aquele teatro de operações. Mas será também um reforço importante da vertente institucional da sua Comunicação.
Um exemplo a reter por muitas outras organizações.

Les Uns e les Autres

Reflexões sobre as mensagens políticas das últimas semanas:

Les Uns - O Referêncial
O Presidente da República

Les Petits Uns - O mais próximo do Real
O Primeiro-ministro

Les Autres - O virtual, cuja acção se esgota na procura de espaço de intervenção mediática
Marques Mendes regressa com um livro um ano depois;
Ferreira Leite e os...40 dias de silêncio
Luis Filipe Meneses e os desafiantes debates públicos;
Morais Sarmento versus...?
Só para falar em alguns...

Les Uns pertencem à esfera da Comunicação.
Les Autres à esfera da Propaganda. O País tem, cada vez mais, dificuldade em perceber e é obrigado a contentar-se com o que tem mais próximo do Real. Será que a culpa é só dos políticos?

14 de setembro de 2008

Há coisas extraordinárias

Lancei-me (talvez tardiamente) neste desafio de ter um blogue embora há muito que acompanhe o que de melhor se escreve e opina neste universo. Para já, ainda está a crescer e é apenas um repositório de algumas crônicas que tenho escrito, quer no OJE, quer na revista Frontline. Será naturalmente um espaço de intervenção nesta grande esfera da Comunicação. Mas também por força desta circunstância reencontrei um amigo que, outras circunstâncias e vissicitudes da vida, nos apartaram há cerca de dez anos.
Foi por acaso que o Carlos de Sousa, grande jornalista e profissional de comunicação, ao visitar o blogue do Luís Paixão Martins, encontrou a minha referência. Foi também com muita satisfação que soube que a sua Agência de Comunicação, a MSG Mensagem, continua activa.
Só por isto já valeu a pena abarcar o universo dos blogues.

12 de setembro de 2008

Propaganda


O Leonel Moura publicou hoje no Jornal de Negócios um texto que li com interesse sobre Política e Propaganda. Confesso que, para mim, o tema é ambivalente. Só faz sentido enquadrá-lo na análise histórica. Nas Democracias ocidentais o plano dominante tem de ser o da Comunicação. Isto é sobretudo um traço de maturidade cultural.

A este propósito repesquei um excerto do Mein Kamfp, de Adolfo Hitler: a capacidade de compreensão das grandes massas humanas é limitada e o seu entendimento muito restrito; em compensação a sua falta de memória é maiúscula. Não sendo a propaganda uma necessidade em si mesma … deve atrair a atenção da multidão e não instruir os que tem conhecimentos científicos…e, portanto, a sua acção deve sempre fazer apelo ao sentimento e só muito pouco à razão.

Não só me preocupa como ainda hoje se mantém actual em Portugal mas preocupa-me sobretudo como se mantém perigosamente presente na acção de alguns analistas e comentadores políticos que são ouvidos neste País.

10 de setembro de 2008

Polícia à Sócrates


A disputa feroz do espaço informativo a que temos assistido, nestas últimas semanas, entre assaltos e outras tipologias de crime e operações policiais não podem deixar de levantar algumas interrogações preocupantes. Em primeiro, parece haver, na realidade, uma escalada de crime em Portugal, mas é preciso analisar bem o fenómeno (obviando as tradicionais análises sociológicas que todos já conhecemos), e perceber quais as repercussões reais no aumento da insegurança no nosso país. É óbvio que o denominado “clima de insegurança” nas populações aumentou, mas tal era inevitável com a brutal pressão mediática sobre o tema. Em segundo – e este sim preocupante – é que parece estarmos a assistir a uma configuração de acção policial mais preocupada em ocupar esse espaço mediático – e por essa via catalisar o clima de insegurança – do que em estruturar uma estratégia eficaz de combate a esta mesma criminalidade.
Não está aqui em causa o empenho e profissionalismo da generalidade dos elementos das nossas forças de segurança, mas sim as determinações que estão a orientar a sua esfera actual de actuação. Já conhecemos dos manuais socráticos a facilidade com se montam operações cosméticas (leia-se mediáticas) para compensar derrapagens governativas com impacto na opinião pública. Um observador atento começa a encontrar nesta actuação policial muita dessa doutrina socrática.
Conheço o actual Director Nacional da PSP. É um homem competente e pragmático. Logo sou levado a concluir que está excessivamente pressionado por directrizes políticas que podem mesmo pôr em causa orientações mais eficazes no combate necessário neste domínio. Porque esta política de proximidade da polícia, agora tão mediatizada (e que explica tantas operações realizadas nos últimas semanas mas cujos resultados cheiram a pouco face à “exacerbada onda de violência”), não deve ser uma excepção mas sim a regra quotidiana.
Os mais altos responsáveis das nossas forças de segurança têm hoje consciência, mais do que nunca, da ambivalência e do perigo de actuarem em áreas em que ainda apresentam fragilidades, nomeadamente no que respeita a uma eficaz utilização da comunicação e das relações com a comunicação social na acção policial. Basta recordar o caso Maddie. Por isso mesmo, deixem a polícia fazer o que sabe fazer e coordenar, com estruturas e pessoas competentes, a forma de consolidar a sua acção com as outras necessárias interacções, nomeadamente a Comunicação. Aos políticos cabe-lhes apenas assegurar que existem os recursos materiais e humanos para se atingirem os objectivos. A César o que é de César…


Crônicas do OJE

11 de agosto de 2008

Os Gormiti


Em uma ilha distante, em um tempo distante, começa a história dos Gormiti…

Os Gormiti. Para a maioria das pessoas o tema certamente não diz nada. A mim diz muito. Vivo com eles dia a dia, pelo bem e pelo mal. Mas afinal quem são os Gormiti? Um povo simpático e pacífico que vivia na Ilha de Gorm até um dia ter sido assombrado pelo mal. O mal personificado pelo seu Senhor e os seus lacaios, os homens lava, que apenas sobreviviam devorando as almas das pobres criaturas subjugadas. Mas, como em tudo e após séculos de subjugação, o mal virou-se contra ele próprio. Sem almas para se alimentar, sem inimigos para lutar, o Poder enfraqueceu e Magor retirou-se para a sua montanha, deixando atrás de si um terreno estéril e sem vida.
Quem conhece bem a história dos Gormiti e dos seus povos é o meu filho que tem cinco anos. É o lado mágico do seu universo de encantar que felizmente também me contaminou. Passei a ver o Panda e o Cartoon em vez da SIC ou outros canais. Voltei, mesmo na fantasia, a descer ao mundo real, por oposição ao universo de percepções construídas com que somos violentados diariamente pelos Media, muitas vezes com objectivos pouco recomendáveis, onde tudo é permitido em nome da “suprema liberdade” de informar. Voltei ao Jardim Zoológico, por oposição a qualquer Zoo virtual. Voltei aos tempos de infância, em que a minha mãe ficava preocupada se me visse chegar a casa “limpinho e arrumadinho” e não todo sujo e desgrenhado. Era sinal que não tinha estado a brincar. Vi com agrado o anúncio televisivo da Skip em que quase apela “aos pais para deixarem os filhos sujarem-se”. Ao que nós chegámos…
Mas os Gormiti também me trouxeram a uma nova realidade e esta bem mais nefasta, a qual infelizmente terei mais tarde de explicar ao meu filho. Na saga do mal, o velho sábio (porque felizmente há sempre um) esperou, século após século, que o Poder de Magor se corrompesse. E a chama da vida permitiu-lhe dar uma nova vida à civilização Gormiti. Assim quatro novos povos nasceram, o do Ar, o do Mar, o da Terra e o da Floresta e os seus líderes eram poderosos, gentis – mas sem memória do passado – dispostos agora a tudo sacrificar pelos seus povos.
Mas o Senhor do Mal estava apenas a recuperar forças. Desta vez não enviou só os seus exércitos, enviou algo mais poderoso, a suspeição. Os quatro povos, outrora amigos, já não só combatiam o invasor, lutavam entre si. Sem razão que soubessem ou sem passado que justificasse, pois as sua memórias tinham sido apagadas. Tudo foi “construído” no mundo das percepções e depois foi só deixar a embriaguês do Poder funcionar. Mas não só… a grande ajuda também veio da ascensão dos incompetentes transformados em pequenos líderes, pois estes nada têm de provar, apenas conseguir um espaço afirmativo na esfera das percepções construídas para conseguirem triunfar.
Se disser ao meu filho que Portugal é um País de Gormitis, agora ele ainda vai achar graça. Se daqui a vinte anos ele ainda encontrar um País de Gormitis o sinónimo será desgraça…


Crônicas da Frontline

Currahee ou uma lição de Liderança






Band of Brothers é uma soberba lição de história e talvez um dos mais marcantes documentos fílmicos sobre a II Guerra Mundial. Mas é simultaneamente um magistral tratado doutrinário sobre Liderança. Seis décadas volvidas valeria a pena que muitas empresas portuguesas oferecessem a serie produzida por Steven Spileberg e Tom Hanks aos seus executivos, em vez de andarem a desperdiçar dinheiro em coachings ou outras acções dispersas.

“Um bom líder tem de compreender os seus subordinados, tem de compreender as suas necessidades, os seus anseios e a sua forma de pensar…ele saltava para o desconhecido. Nunca punha a hipótese de não ir à frente ou mandar alguém no lugar dele. Não sei como sobreviveu, mas sobreviveu”. Este é o relato verdadeiro de um dos sobreviventes da Companhia Easy, da 101ª Divisão Aerotransportada dos Estados Unidos, que foi largada atrás das linhas inimigas a 6 de Junho de 1944,o dia D, ao falar sobre o seu comandante Richard Winters.
A Easy, tornou-se uma mítica força de combate na II Guerra Mundial, desde que abandonou a sua base em Camp Toccoa com destino a Normandia, até à tomada do Ninho da Águia de Hitler, nos Alpes em Berchtesgaden. A tale of ordinary men who did extraordinary things foi o mote de Spilberg e Hanks para produzirem a série televisiva Band of Brothers que relata a história da Companhia Easy e dos seus homens, baseada no livro de Stephen Ambrose e nos testemunhos dos seus sobreviventes, que aparecem retratados na série em entrevistas e depoimentos.
Mas Band of Brothers não é só talvez um dos mais marcantes documentos fílmicos sobre a II Guerra Mundial. Analisado noutra perspectiva, oferece-nos um magistral tratado doutrinário sobre A LIDERANÇA e não sobre liderança. Mais curioso quando percebemos que passaram mais de 60 anos e o paradigma retratado não mudou. Mais preocupante quando percebemos que esta ainda é uma realidade distante em Portugal.
Nessa mesma perspectiva, Currahee, a tortuosa colina adjacente à base de treino dos pára-quedistas, em Camp Toccoa – three miles up, three miles down – encerra uma dupla carga simbólica: construiu e cimentou o sentimento de pertença do grupo e tornou-se, em simultâneo, o símbolo dos homens do Regimento e da Companhia Easy. Porquê? Porque fica muito claro da lição que se retira da Easy que a sua eficácia em combate, resultou de uma poderosa combinação de fortes lideranças a todos os níveis na escala da organização. Uma liderança afirmada em condições limite, quando se definem patamares de objectivos, mas cujo limite inferior desses mesmos objectivos significa sempre perdas e, neste caso, de vidas humanas. É curioso de observar como a teia de progressão psicológica de todos os soldados da companhia reflecte sempre nas suas acções a preservação da boa liderança ou a aniquilação daquela que não lhes servia. E tudo isto estruturado numa complexa relação com a morte e a sua inevitabilidade naquele extremo contexto de guerra. O alcance psicológico do objectivo supremo para os que combatem só se começa a desenhar, no decurso da narrativa, quando a companhia chega finalmente à Alemanha e descobre o primeiro campo de concentração. Why we figth desempenha aí claramente um papel de reforço na motivação dos soldados. No entanto, nos mais de 400 dias que ficaram para trás, vividos em situações limites e com baixas humanas diárias, os objectivos só foram atingidos porque a LIDERANÇA claramente cimentou os fios da teia.
Currahee reflecte, assim, todos os patamares dessa liderança e representa igualmente um dos símbolos mais marcantes da arte de bem conduzir Homens…negócios, destinos ou Nações. Na sucessão dos personagens que vamos encontrando ao longo da série conseguimos tipificar todos os tipos de líder, mesmo aqueles que, em dada altura, ultrapassam um nível de exigência e redundam em fracasso quando confrontados com novos contextos ou realidades. Do exemplo de oficiais como Sobel, por um lado, e Winters, Buck Compton, Speirs ou Lewis Nixon, por outro, definimos um conjunto de características intrínsecas de liderança das quais resulta logo uma primeira evidência inabalável: o líder não se fabrica. A liderança é uma aptidão humana, que pode emergir em resultado de um ciclo de oportunidades, mas está ou sempre esteve na esfera do indivíduo (leia-se líder). Ela evolui, matura-se, trabalha-se, mas não pode ser imputada como um corpo estranho a quem não nasceu para liderar.
Aliás, um dos casos mais emblemáticos de liderança retratados em Band of Brothers é o percurso de Carwood Lipton, que serviu na companhia desde soldado até à sua promoção a oficial e se tornou num dos pilares fundamentais de coesão do grupo, principalmente quando o seu superior hierárquico falhou. Lipton acabou precisamente por ver reconhecido o seu mérito nessa promoção a oficial, já praticamente no fim do conflito, e revela-nos um quadro de análise profundo da evolução dos princípios fundamentais de liderança consoante as necessidades contextuais, quer a nível de enquadramento social, quer a nível de enquadramento hierárquico na organização, quer na forte adaptabilidade da sua acção psicológica no evoluir do quadro das operações em que com os seus homens estava envolvido.
Retomando as características intrínsecas da liderança, que na teia de relações complexas desenvolvida nos dez episódios da série nos é apresentada, resultam então três pilares fundamentais na arquitectura do líder:
Experiência – O líder não se assume como uma autoridade na matéria, mas absorve essa experiência na esfera de lhe permitir lidar com as situações, em ambientes de maior ou menos pressão, transmitindo um sentimento de segurança. Diminui o factor risco nas equipas, optimizando a sua acção na orientação do objectivo que está definido; (Exemplo de Major Winters)
Humildade: A liderança é implicitamente reconhecida sem necessidade de ser apregoada. A perca de sinergias no exercício de autoridade ou demonstrações de Poder é anulada (Ver a conduta do Tenente Buck Compton)
Retorno: A liderança retorna ao líder ou o líder encontra sempre uma forma de liderança, independentemente das conjunturas, dos actores, dos contextos (Caso de Carwood Lipton).
Quando, num dos testemunhos vivos apresentados, um dos homens da Companhia Easy relata o conteúdo de uma carta que tinha recentemente recebido de um dos seus companheiros, em que este descrevia o diálogo curioso que tinha com o seu neto com quando este lhe perguntou “Avó fostes um herói na Guerra”, ao que o Avó respondeu “não não fui, mas servi numa companhia de heróis”, cai finalmente por terra o mito dos falsos lideres que povoam este mundo, na política, na economia, nas empresas, onde quer que seja.
O líder não é um herói. Não encerra carga simbólica. A carga simbólica está no grupo. As acções do líder, as histórias que correm à sua volta não são percebidos como traços de coragem ou actos bravura, no sentido mais lato do termo, embora possam assumir essa dimensão na sua projecção para a esfera exterior (ao grupo, à organização). São sempre interpretadas na lógica da eficácia para a prossecução dos objectivos que estão destinados. O líder, como o Tenente Speirs em Band of Brothers é o primeiro elo na base desse fundamental sentimento de pertença.
Para os homens da Companhia Easy, Currahee foi o símbolo alicerçado nessa presença mantida coesa por uma Liderança forte e bem estruturada. Para nós, Currahee poderá certamente ser um grande compêndio sobre “essa arte de gerir homens no seio das organizações”. Não temos a colina, mas pudemos aprender muito a ver o filme.
Crônicas da Frontline

1 de agosto de 2008

Uma pergunta no ar

O desfecho que alguns (muitos?) queriam, outros desejavam e ainda os outros temiam acabou inevitavelmente por acontecer, o arquivamento do caso Maddie. Mas, prolongando o seu traço mais característico revelado ao longo destes 14 meses, não se encerrou a controvérsia. Não nos interessa aqui debater a natureza jurídica ou tramitação de investigação criminal do desaparecimento da criança. Já tinha escrito no Oje que um dos aspectos que mais ressaltou à vista em todo este processo e que teve inegavelmente consequências no rumo da sua investigação foi a total inabilidade e incapacidade da Polícia Judiciária em gerir a espiral de comunicação e a pressão a que os Media sujeitaram o caso.
Mas esta constatação leva-nos, por oposição contrastante, a descobrir outra evidência, ou seja, a total habilidade do casal McCann neste domínio. No entanto, o que ressalta de preocupante nesta matéria não é essa capacidade, aliás com provas dadas como seria de esperar com a contratação de Clarence Mitchell, Porta-voz e ex-assessor do primeiro-ministro britânico, mas sim o porquê da sua necessidade.
Esta continua a ser a resposta de um milhão de dólares. Quem, por via da regra, trabalha em ambientes de gestão de comunicação de crise, rapidamente encontrou na estratégia do casal um fio condutor de cumprimento estrito dos parâmetros e regras de actuação em situações extremas desta natureza. Mas porque razão tiveram os McCann de adoptar uma gestão de comunicação deste tipo em todo este processo? A tal ponto que, a dado passo, esta passou a ser percebida como a sua actuação prioritária, quase relegando a procura da filha para um segundo plano, para uma segunda prioridade.
Quem é pai certamente não se revê neste comportamento. Quem é especialista nesta área, não encontra razões válidas num cenário normal de procura de uma filha desaparecida para se adoptarem estas estratégias. A pergunta continua a ser: Porque não se limitaram os McCann a procurar a filha? A resposta a todo o enigma poderá estar aí…
Crônicas do OJE

11 de julho de 2008

Beba um whisky com o ginecologista




Já viu a seta branca no logo da FEDEX? Ver para além do óbvio e do que nos é induzido é uma vantagem competitiva, particularmente em gestão de comunicação de crises. É o factor PAT que traduz três domínios fundamentais de actuação: Argumento, Psicológico e Trunfo.

Num mundo moderno, cada vez mais volátil, em que a informação gira à velocidade da luz, neste caos organizado qual é a probabilidade da sua empresa ser atingida por uma situação de ruptura, de crise? Como gerir quando o impossível acontece?
A resposta não é óbvia, pese embora hoje existir um corpo de saber e doutrina muito bem estruturado em matéria de gestão de crises. Mas este é também o paradigma do óbvio e da resposta estruturada: nem sempre as melhores soluções respondem aos mais simples problemas. Porquê? Porque a crise é uma realidade inerente à própria ordem, como tal assumindo uma natureza latente que pode ser despoletada a qualquer momento. Mas uma crise só faz sentido se for entendida como tal. E é uma percepção construída nos dois sentidos, ou seja, para dentro e para fora da organização. E neste sentido, existe um elemento central que é factor crítico, o denominado referencial, que congrega os Públicos, a formulação dos argumentos e a expressão das suas opiniões.
Crítico quando assim não entendido, porque cada organização move-se num quadro referencial específico, por mais lato que seja, mas este quadro é dinâmico e muda as suas características a todo o momento, mudando os seus actores e as suas percepções. Não só varia de organização para organização como dentro da própria organização.
O exemplo do ginecologista é elucidativo: Após um dia de consultas e esperando por uma paciente, já regular e que se atrasara, o médico senta-se tranquilamente e opta por beber um whisky. A recepcionista já saíra e quando a paciente chega, acaba ela também por se sentar num momento de conversa e descontração com o seu médico antes de se iniciar a consulta. É neste momento em que batem à porta e o clínico ao levantar-se exclama: “oh, é a minha mulher… depressa, dispa-se e abra as pernas”.
Óbvio!
Para onde nos conduz então este exemplo? Talvez para todo um conjunto de novas abordagens e para a construção de vantagens competitivas, não só na prevenção como na gestão de crises no seio organizacional. A vantangem de quem vê a seta branca no logo da FEDEX é precisamente essa:
É um Trunfo porque diferentes percepções (atenda-se ao referencial) podem-nos fazer antecipar porblemas, mas também soluções;
É Argumental, porque nos vai permitir construir respostas por antecipação, mas também reagir, quando necessário, com consistência de argumentos aos diferentes públicos envolvidos na nossa organização;
É Psicológico porque, ao assumirmos que temos uma vantagem competitiva, aumentamos o nosso patamar de segurança, diminuindo o factor risco da nossa actuação, por via da regra em situações de grande pressão.

Probabilidade versus factor risco.
Pergunte-se ao comum dos mortais quem corre maior risco de partir uma perna, se um pará-quedista nas sucessivas aterragens ou uma pessoa vulgar a caminhar no dia à dia. A resposta (mais uma vez) é óbvia e aponta para o pará-quedista. Só que também aqui o óbvio esconde uma realidade completamente diferente. É que a probabilidade de isso acontecer ao pará-quedista é infíma quando comparada com a pessoa que caminha no seu dia-a-dia. Porquê, precisamente pelo facto de que uma aterragem ao ter um elevado factor risco, leva a que o pará-quedista actue com uma atenção redobrada, in sitio, para a sua concretização, fruto também da sua prévia preparação. Quem caminha na rua, pelo contrário, caminha naturalmente e sem prestar atenção ao terreno que pisa.
A conclusão é obvia. Regra comum, o tecido organizacional indexa o factor risco com perigosidade, descuida o critério probabilidade e, quando o impossível acontece e a crise rebenta, a primeira reacção é de espanto, “como pôde isto acontecer”. Parte logo numa posição de desvantagem.
Quem vê a seta actua sempre como se a sua organização fosse uma pará-quedista e antecipa, mesmo que o caminho já tenha sido repisado vezes sem conta.

A esfera interna ou a realidade esquecida
A crise é uma agressão exterior ao tecido organizacional? Da pergunta rapidamente passamos à conclusão de que este é outro dos mitos que a generalidade dos gestores entende como verdade inabalável. Mas será mesmo assim? Na realidade, muitas das crises rebentam por implosão, por manifesta negligência da esfera interna das organizações. E a generalidade destas são as que atingem pessoas, executivos de topo, e que provocam efeitos avassaladores, quer no plano individual, quer nas organizações.
Dois exemplos recentes, embora de diferente repercusão são ilustrativos: o caso Jardim Gonçalves / Banco Comercial Português e o de Eliot Spitzer, o mayor de Nova Iorque apanhado no envolvimento com uma prostituta de luxo. Em ambos os casos a ameaça foi residente, gerada na própria esfera de actuação dos indivíduos. Nas organizações, o enlace pode ser o mesmo, quando a cultura organizacional é fraca, quando falha a comunicação interna, quando a organização é entendida pela gestão de topo como um “mero aparelho reprodutivo sem vida própria”.

Lázaro ou a crise ressuscitada
“Crisis Management deals with the reality of the crisis. Crisis Communications deals with the perception of the reality”.
Este é o último statement nas vantagens competitivas. Em crise, a gestão fundamental terá sempre de actuar ao nível das percepções. Porque quando a crise ganha vida própria, o combate passa para a esfera da Imagem que vai ser construída, das percepções que vão ser induzidas e da importância que lhes vai ser atribuída.
E esta vida é outra das questões chave. É que uma crise efectivamente “nunca morre”. É o sindrome de Lázaro nas organizações - Uma crise pode sempre ressuscitar ou ser ressuscitada a qualquer momento.
Se um dia for um executivo de topo e alguém lhe disser que viu a sua mulher a beber um whisky com um ginecologista, a sua recção pode causar perplexiudade no seu interlocutor, mas significará, sem dúvida, que a sua empresa está preparada para responder a qualquer crise, mesmo quando o impossível acontece…
Crônicas da Frontline

10 de julho de 2008

Má sorte ter nascido p…!


“E a roda deste fado

só não a teme quem a encara

e os que ainda andam na mó de cima

têm que saber que a roda não pára

e fatalmente o fim se aproxima

a vida não pára”
(Fado do Kilas, Sérgio Godinho)


Corre o tempo neste pacato quinhão nacional e, cada vez mais, me vem à memória uma extravagante cena protagonizada pela Pepsi Rita (aliás Lia Gama), quando afirmava “má sorte ter nascido puta” no imortalizado filme “Kilas o Mau da Fita”, de José Fonseca e Costa. Perdoem-me a expressão, mas daquele longínquo ano de 1981 sempre retive aquela mágoa da afirmação da “sorte”, da sorte que lhe ditou o destino. Apenas a sorte, nada mais.
E, de facto, a sorte é um conceito inexplicável, quando de sorte se trata. Desde novo que pautei a minha vida por alguns princípios intocáveis, mas uma máxima sempre ocupou um lugar de destaque neste longo percurso da adolescência à idade adulta: “A sorte é aquilo com que os medíocres tentam explicar os feitos dos génios”.
E esta realidade hoje é abrupta. Não somos um país de génios, somos, de facto, um País de medíocres. E onde nos leva essa mediocridade? Entre outras coisas e causas a uma redefinição daquele velho conceito dos “corredores do Poder” e ao emergir de toda uma panóplia de formas mesquinhas e corruptas do exercer.
É o poder dos pequenos grupos, que não se manifestam, mas comunicam. É o poder mesquinho dentro das organizações, da desinformação, dos lapsos, dos rumores. É o poder daqueles que controlam e manipulam a informação, não com base nos factos, mas sim nas motivações.
É o desfile quotidiano do muito que assistimos hoje em dia na Televisão, na Rádio, na Imprensa, na rua, na empresa, na associação. Nem George Orwel ousou ir tão longe na feliz combinação do Animal Farm com o Big Brother (is watching you).
Precisamos assim urgentemente de uma nova classe de génios, os pequenos génios, os que ousem romper esta teia de percepções controladas, de manipulação. Muito deste contributo já tem sido dado na emergência e afirmação de muitos e novos fenómenos, mas todos prontamente apelidados de marginais – e cito apenas a título de exemplo os blogues – por que ousam escapar e efectivamente escapavam a esta teia de controlo.
Falta agora romper as teias organizacionais. É verdade que o exercício deste (pequeno) poder discricionário, per si, não vinga, mas estruturado na teia, no feudo, é uma malha proteccionista quase impenetrável. Se o seu exercício, na forma e não na essência - por que essa normalmente não existe - é revelador do carácter de quem o exerce, então de facto somos uma País que cultiva descaradamente a mediocridade. Para estes nunca o “Fado do Kilas” foi tão actual.
E talvez Kilas, afinal, não fosse o mau da fita.

Crônicas da Frontline

11 de junho de 2008

Quo Vadis Lex?

Quem acompanha o mercado dos serviços legais em Portugal começou, de repente e num curto espaço de tempo, a confrontar-se com um fenómeno novo que subverte todo aquilo que conhecemos dentro das mais elementares lógicas comunicacionais, como se tivesse instalado algum pânico entre os mais representativos players do sector.
Esta alegada voragem comunicacional perdeu sentido e pode tornar-se apenas numa luta de visibilidade. São rankings repisados atrás de rankings, são números sem expressão de quem cresceu mais ou tem mais advogados, são contratações, não deixando espaço para a afirmação de competências, de doutrina, de boas práticas.
E esta mesma voragem pode contaminar a própria comunicação social, já escassa neste domínio, por força de ser cobiçada numa disputa de muitos protagonistas, o que em nada ajuda a esfera reputacional de um sector para quem a Comunicação se torna cada vez mais vital e dos media para quem a maturidade comunicacional do sector jurídico é fundamental para o seu crescimento editorial neste domínio.
Aliás, não deixa de ser curioso que assistimos entre nós precisamente a práticas que contradizem tudo o que é hoje a doutrina de marketing e comunicação dos mercados mais maduros, quer nos EUA, quer na própria Europa, como é o exemplo de uma Inglaterra, uma Irlanda ou até mesmo de uma França.
O que intrigadamente continua por explicar é este aparente pânico. Ou porque muitos receiam que um novo paradigma esteja iminente, fruto de muitas e talvez já antecipadas alterações estruturais, política, económicas e sociais, que a sociedade portuguesa vai ter de enfrentar ou porque simplesmente não estão preparados para fazê-lo de outra maneira.
Mas, a ser assim, também aqui se abre um novo círculo de oportunidades para quem tem competências (estratégicas e comunicacionais) desenvolvidas nesta área.

Crônicas do OJE

10 de junho de 2008

A mão que embala o berço

Para o comum dos mortais, que afinal somos todos nós, se há prática que entrou definitivamente no nosso quotidiano foi a da proclamada Responsabilidade Social. De facto, nunca ouvimos falar tanto “do compromisso de envolvimento das empresas com a comunidade” pese embora nunca tenhamos percebido bem se esta é, de facto, hoje, uma exigência real por parte dos múltiplos públicos (stakeholders) que agregam o denominado “ambiente” onde as empresas desenvolvem a sua actividade.
O conceito de Responsabilidade Social que, por definição, obriga a um criar uma esfera de actuação com múltiplas vertentes (Visão, Sustentabilidade, Comunidade, Colaboradores, etc.) é recente, pese embora os seus movimentos mais estruturados possam ser situados em exemplos como a criação do “bilan social”, em 1972, em França, ou o pacote instrumental do “Corporate Report” em 1975, no Reino Unido.
Aliás, neste domínio é interessante ler uma caracterização de Responsabilidade Social estruturada nas suas quatro características intrínsecas, com estão definidas num dos principais suportes de informação brasileiros sobe esta temática (responsabilidadesocial.com):
Plural – As contas não são prestadas apenas aos accionistas mas a uma multiplicidade de públicos com base num diálogo participativo que aumenta a legitimidade social;
Distributiva - A responsabilidade social nos negócios é um conceito que se aplica a toda a cadeia produtiva;
Sustentável - Responsabilidade social anda de mãos dadas com o conceito de desenvolvimento sustentável;
Transparente – A globalização exige critérios de transparência, aferindo a performance das empresas em múltiplos domínios.
Mas, mesmo assim, ainda hoje continuamos a assistir a muitos conceitos agregados à responsabilidade social, como práticas de marketing social, ou apenas um aproveitamento estrito de acções de promoção de produtos “colados” a causas sócias, com intuitos meramente de marketing e reforço de branding, o que acaba por gerar apenas mais instabilidade na adopção destes princípios na dimensão corporativa.
Não está em causa a legitimidade de muitas acções desenvolvidas pelas mais variadas empresas e dentro de alguns eixos de actuação que atrás referi. Não me causa complexo que uma empresa X aumente a venda dos seus produtos se conseguir deste modo concretizar um projecto que tem impacto num determinado grupo. Dou aqui apenas um exemplo, o caso do que a Swatch tem feito em Portugal ao desenvolver projectos como a Ajuda de Berço ou a Casa do Gil. Não só de louvar como de incentivar.
Só que, como diz o povo, há que separar claramente as águas. Uma coisa não invalida a outra. Mas a responsabilidade social corporativa tem de ser uma exigência inabalável nas nossas sociedades actuais, como elemento diferenciador no tecido empresarial, permitindo-nos, fundamentalmente à luz do desenvolvimento sustentável, premiar aquelas empresas que queremos que acompanhem o nosso futuro. É também claro hoje que muitas instituições já anteciparam esta realidade e procuram responder, de forma rigorosa, ao que será um factor crítico de sustentabilidade e competitividade do seu negócio num futuro que já é próximo.
Mas a questão da Responsabilidade social levanta-nos um problema maior: onde cabe a responsabilidade individual neste quadro? Como produzimos empresas responsáveis se deixamos o indivíduo ao abandono?
Tracemos aqui um exemplo. Imaginem uma clínica privada que, respondendo às exigências da Responsabilidade Social, resolve dedicar um dia por mês a prestar consultas médicas gratuitas às pessoas carenciadas da comunidade em que está inserida. Mas imaginemos que uma elevada taxa de profissionais dessa mesma clínica são pessoas mal preparadas, quer do ponto de vista médico, quer nos seus valores éticos e morais. Assim sendo, o que pretendia ser uma resposta efectiva e real para um grupo carenciado acabava por se tornar num mau serviço prestado à comunidade, mesmo sob a “capa” da referida Responsabilidade Social.
E é precisamente aqui que reside um factor crítico: a imposição do objectivo colectivo (leia-se instituição) esquecendo o referencial individual, os seus valores, credos, aspirações... E se este mesmo colectivo resulta, na agregação da sua cultura, valores e missão, da soma das vontades individuais, então este aparente consentido desprezo é um caminho perigoso.
Como inverter esta tendência? Certamente que não há formas miraculosas mas felizmente existem muitos bons exemplos nas práticas de gestão actuais. Só que o caminho tem de ser encetado mais cedo. E a este propósito cito aqui um excelente exemplo de boas práticas neste domínio com que recentemente me confrontei. Trata-se do Prémio Infante D. Henrique, um programa de educação para a cidadania destinado a jovens dos 14 aos 25 anos e que se desenvolve em diversas áreas de actividade. Existe suficiente informação disponível pelo que não vou fazer aqui uma explicação exaustiva do mesmo. Apenas reter um ponto curioso e que deve merecer reflexão. Este prémio é a extensão, em Portugal, do“International Award for Young People - The Duke of Edinburgh’s Award”, fundado em 1956, em Inglaterra, pelo Duque de Edimburgo. Sendo um complemento à educação académica, o objectivo do programa é o desenvolvimento pessoal e social, assim como a formação de jovens, através de uma ocupação sadia dos tempos livres e já envolveu, até hoje, mais de seis milhões de jovens, em várias vertentes, que vão desde o apoio à comunidade até as intervenções ambientais. Que revela então daqui? Apenas um estudo recente desenvolvido pela United learning Trust, uma importante organização britânica dedicada ao ensino, que inquiriu um conjunto de grandes empresas, (representando 12% do número de trabalhadores do sector público e privado em toda a Grã-Bretanha) sobre os requisitos e características que são determinantes na hora de seleccionar e recrutar candidatos. Dos 28 itens considerados por ordem de importância, o primeiro factor determinante na contratação foi precisamente o facto de os jovens terem frequentado o The Duke of Edinburgh’s Award.

Os ingleses não descobriram nenhuma fórmula mágica. Terão talvez apenas consciência que, para embalar o berço da Responsabilidade Social das suas corporações, será melhor terem também uma “mão responsável”.
Crônicas da Frontline