15 de junho de 2009

Derrubar Colunas


Na mais linear tradição maçónica quando uma “loja”, a sua estrutura base de agregação, se sente incapaz de continuar a desempenhar a sua função, os seus elementos mais não fazem do que “derrubar colunas”. É um acto simbólico, cujo devir reflectirá certamente um fim ou um novo princípio, um novo começar. É um acto simbólico quando se entende que derrubar colunas significa que os pilares básicos que sustentam um fundamento organizacional são incapazes de cumprir a sua função.
Não somos necessariamente todos maçons, mas se apreendermos a profundidade da sua analogia, também compreendemos que Portugal está cada vez mais perto do colapso. Não interessa se, na realidade, a nossa sociedade está ou não está a caminhar para a ruptura. Interessa sim a forma como percepcionamos o actual momento em que vivemos e como diria o povo: “à mulher de César não basta sê-lo, há que parecê-lo”.
É verdade que a actual dinâmica de uma sociedade conduzida pela voragem comunicacional nos leva a perder o controlo sobre o que verdadeiramente acontece versus aquilo que nos é comunicado como tendo acontecido. Mas, pese embora algum exagero de intoxicação que as televisões nos provoquem e mesmo até alguma distorção factual por força de interpretações que nos são induzidas, há realidades que são imutáveis.
Uma dessas realidades é o estado de verdadeiro colapso do aparelho da Justiça em Portugal. O Pilar, na acepção maçónica, ruiu completamente e o último golpe do pedreiro foi o caso Alexandra. Para os portugueses já não está em causa se há ou não igual acesso à Justiça, se há uma Justiça para ricos e outra para pobres ou se a Justiça é demasiado lenta no nosso país.
O que os portugueses finalmente perceberam com o caso Alexandra é que o aparelho da justiça foi invadido por uma massa amorfa, mal formada, mal preparada, que esconde todas estas deficiências e fragilidades numa aplicação estrita da norma jurídica, da lei, de um quadro normativo completamente desenquadrado da realidade.
Mas a falha não está só na complexidade da realidade jurídica em Portugal. É muito mais profunda. Está no indivíduo, na pessoa, no agente, naquele que exerce autoridade. Se o pilar da Justiça está a ruir é porque dois outros pilares fundamentais já colapsaram: o da Família e o da Educação.
A revolução das elites (das poucas que ainda restam neste país) já não será suficiente. Este terá de ser o tempo da revolução “dos homens bons”. Pela força da não resignação contra esta percepção generalizada de um País à beira da ruptura que se instalou em todos nós. E não basta um juiz vir dizer que se sente incomodado com o destino que ditou à pequena Alexandra para que todos nos sintamos aliviados e esperançados que este tenha apenas sido mais um episódio isolado e exageradamente explorado pela comunicação social.
Quantos lamentos ainda teremos de ouvir dos juízes em Portugal antes de percebermos que as coisas estão efectivamente mal?

Crônicas da Frontline

1 comentário:

Gonçalo Couceiro Feio disse...

Começando pelo fim, esperemos não ouvir lamentos de juízes. Não existem para justificar em praça pública seja o que for. Existem para aplicar a lei, fazendo (ou não) justiça. Não creio que o pilar desta seja a educação. Aliás, há toda uma pedagogia em torno do acto da justiça que, muitas vezes tem, e deve, reeducar quem daquela se esqueceu.
Agora.... a alusão à maçonaria, meu querido amigo, em nada é para aqui chamada. A menos que esteja o autor a sugerir que os "homens bons" que nos irão salvar, substituindo as elites (que sempre existiram, ao contrário do que sempre se disse, mas que SEMPRE quiseram estar de fora do processo - o português é assim) sejam provenientes da legião do avental. Oxalá não.
Abraço