Há uns bons anos atrás escrevi umas quantas linhas editoriais sob este mesmo título em que defendia que o exercício das funções do porta-voz era fundamental nas estratégias de comunicação de todas as instituições, independentemente da sua natureza. Como em tudo neste país, à altura, a questão não era sensível nem tão pouco caia no rol das preocupações ditas comunicacionais do nosso universo das instituições, quer públicas, quer privadas. Mas, mais preocupante, é que hoje pouco ou nada foi feito neste sentido, nem mesmo quando somos confrontados com os elevados custos reputacionais que esta situação pode implicar. Dou apenas um exemplo, sem juízo de valor sobre todo o contexto em que o episódio (ainda) se desenrola. O caso Maddie é paradigmático. Veja-se a total inabilidade e incapacidade do Inspector Olegário de Sousa da Polícia Judiciária versus a defesa do casal feita por Clarence Mitchell, Porta-voz e ex-assessor do primeiro-ministro britânico, numa altura em que os McCann tinham entrado numa espiral incontrolável. Dir-me-ão que existem muitos mais factores envolvidos. É óbvio, nem tão pouco esta avaliação é redutora. Mas os estragos provocados pelo inspector da PJ são irreversíveis. Este mesmo princípio se aplica em inúmeros casos com que nos confrontamos no dia-a-dia. Será que muitas associações em Portugal ainda não perceberam que a sua incapacidade em comunicar - leia-se em ter um Porta-Voz e não um técnico que assume esse papel - resultava num incremento imediato da sua credibilidade? O que está em jogo é que o Porta-voz não é apenas um indivíduo bem-falante que se limita a ler um papel previamente escrito. É e deve ser um indivíduo integrado ao mais alto nível na organização com competências para exercer as suas funções. É que, ao Porta-voz, não lhe são exigidas competências técnicas, não precisa de ser engenheiro, mesmo que trabalhe numa grande construtora, não precisa de ser advogado, mesmo que trabalhe numa grande organização jurídica, são sim exigidas competências comunicacionais. E isso infelizmente ainda poucos compreenderam neste país.
Crônicas do OJE
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