20 de fevereiro de 2009

Os pecados comunicacionais da Justiça


Foi com redobrado interesse que acompanhei o debate na emissão de hoje do Expresso da Meia Noite, sobretudo no que respeita as relações da Justiça com a Comunicação Social e a total inabilidade que, quer o Ministério Público, quer muitas forças policiais, têm revelado neste domínio. Tudo isto vem agora muito a público sobretudo numa altura em que se assiste a uma tentativa de "mudança de atitude" principalmente por parte do Ministério Público. Essa mudança é fundamental e necessária, mas não da forma como parece estar a ser conduzida, induzindo uma tentativa de protagonismo mal ensaiada. Soa a falso.

Tenho escrito com regularidade sobre esta matéria aqui neste mesmo blogue e no OJE. Muito se fala no problema do segredo de justiça como um factor crítico neste universo de relações, mas esta é apenas uma questão lateral. O que é uma facto é que a total incapacidade e inabilidade das nossas estruturas judiciais e policiais lidarem com a comunicação social resulta de uma complexa questão cultural motivada pelo facto de nunca terem sentido essa necessidade. Porquê? Porque sempre exerceram um controlo "parental" sobre a Comunicação Social em que ditavam as regras do jogo e com isso criaram o clima de promiscuidade com que vivemos até hoje. E sejamos realistas: serviu a todos.

As coisas só começaram verdadeiramente a mudar com o Caso Maddie, quando muitas destas estruturas foram confrontadas com um sistema com o qual não sabiam lidar e com a verdadeira pressão de uma comunicação social (principalmente a britânica) que é incapaz de furar o segredo de justiça mas é implacável no seu exercício de procura de informação.

Aliás, registei com agrado a posição defendida por José Manel Fernandes de que sentia muito mais confortável a viver dentro do sistema britânico de relação da Justiça com a Comunicação Social.

Por tudo isto, algo continua profundamente errado neste país. Para além da Justiça, o mais recente caso em Portugal, o caso Freeport, vai certamente transformar num case study nesta matéria.

Não é só necessária uma profunda mudança cultural em muitos sectores ligados à Justiça em Portugal, mas também de que entreguem a quem sabe matéria que não é da sua estrita competência, como é o caso da Comunicação. Relembro aqui apenas um exemplo que também abordei neste blogue: que sirva de reflexão...

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