10 de setembro de 2008

Polícia à Sócrates


A disputa feroz do espaço informativo a que temos assistido, nestas últimas semanas, entre assaltos e outras tipologias de crime e operações policiais não podem deixar de levantar algumas interrogações preocupantes. Em primeiro, parece haver, na realidade, uma escalada de crime em Portugal, mas é preciso analisar bem o fenómeno (obviando as tradicionais análises sociológicas que todos já conhecemos), e perceber quais as repercussões reais no aumento da insegurança no nosso país. É óbvio que o denominado “clima de insegurança” nas populações aumentou, mas tal era inevitável com a brutal pressão mediática sobre o tema. Em segundo – e este sim preocupante – é que parece estarmos a assistir a uma configuração de acção policial mais preocupada em ocupar esse espaço mediático – e por essa via catalisar o clima de insegurança – do que em estruturar uma estratégia eficaz de combate a esta mesma criminalidade.
Não está aqui em causa o empenho e profissionalismo da generalidade dos elementos das nossas forças de segurança, mas sim as determinações que estão a orientar a sua esfera actual de actuação. Já conhecemos dos manuais socráticos a facilidade com se montam operações cosméticas (leia-se mediáticas) para compensar derrapagens governativas com impacto na opinião pública. Um observador atento começa a encontrar nesta actuação policial muita dessa doutrina socrática.
Conheço o actual Director Nacional da PSP. É um homem competente e pragmático. Logo sou levado a concluir que está excessivamente pressionado por directrizes políticas que podem mesmo pôr em causa orientações mais eficazes no combate necessário neste domínio. Porque esta política de proximidade da polícia, agora tão mediatizada (e que explica tantas operações realizadas nos últimas semanas mas cujos resultados cheiram a pouco face à “exacerbada onda de violência”), não deve ser uma excepção mas sim a regra quotidiana.
Os mais altos responsáveis das nossas forças de segurança têm hoje consciência, mais do que nunca, da ambivalência e do perigo de actuarem em áreas em que ainda apresentam fragilidades, nomeadamente no que respeita a uma eficaz utilização da comunicação e das relações com a comunicação social na acção policial. Basta recordar o caso Maddie. Por isso mesmo, deixem a polícia fazer o que sabe fazer e coordenar, com estruturas e pessoas competentes, a forma de consolidar a sua acção com as outras necessárias interacções, nomeadamente a Comunicação. Aos políticos cabe-lhes apenas assegurar que existem os recursos materiais e humanos para se atingirem os objectivos. A César o que é de César…


Crônicas do OJE

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