18 de outubro de 2010

O Engodo


Finalmente…o grande engodo comunicacional que Portugal vive há mais de uma década está prestes a rebentar. A bolha vai estilhaçar tudo e todos mas os principais culpados são todos os portugueses, todos nós. A Democracia plena constrói-se na participação, não na informação ou na comunicação. Mais acesso, mais informação, mais liberdade de expressão, não significa melhor informação, mas, via da regra, mais espaço para manipulação. O espectáculo, o mediatismo, o aqui a agora, destroem o espaço público, destroem a capacidade de mediação, de o indivíduo racionalizar e exploram a sua vulnerabilidade. A “verdade dos media” é a verdade tout court. A política já não vive fora do mediatismo, até porque esse era incortornável, (mas não insubstituível). Os políticos não conhecem os eleitores, os eleitores não sabem quem são os políticos. Apreendem apenas a realidade do grande ecrã e o filtro não é necessariamente isento. Da política espectáculo já estamos muito próximo do espectáculo da política. Tudo se constrói em torno do espaço mediático, do palco, como se de um live show se tratasse. E assim, em questões menores, discussões estéreis, chantagens diplomáticas, proliferação de análises e analistas que tentam interpretar o que os políticos dizem – pois estes já não falam no espaço comum em que os cidadãos os possam compreender – se vão escondendo as realidades ou melhor se têm vindo a esconder as realidades deste país, o seu atraso estrutural, a incapacidade ou não vontade de controlar o “monstro Estado no seu voraz apetite tão necessário para o clientismo político”. Porque Portugal é um doente endémico. Não foi esta crise que colocou o País em coma, mas sim o estado debilitado da Nação que COMUNICACIONALMENTE aparentava uma saúde de ferro.
Em entrevista recente à TSF, Medina Carreira não pôs o dedo na ferida, antes enfiou o braço até ao ombro como se do parto de uma bezerra se tratasse: «o primeiro-ministro não tem estratégia nenhuma senão andar a fazer espectáculo e ir conciliando as circunstâncias para ver se vai durando». Mas não é só o primeiro-ministro. São os políticos, são os socialistas, são as máquinas de assessores, consultores, analistas e agências de comunicação que gravitam à volta do sistema. Não significa isto que, nesta panóplia imensa, não exista gente séria e preocupada. Só que a teia foi bem urdida e rompê-la não é uma tarefa fácil.
Pode ser que muitos outros Medinas Carreira consigam finalmente romper o engodo comunicacional em que temos vivido há mais de uma década.
É que agora já não é tempo de falar, é tempo de agir.
Crônicas da Frontline

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