14 de outubro de 2011

Um governo "estupidamente" esclarecido


A face menos conhecida do Primeiro-ministro Passos Coelho é a sua capacidade de doutrinação política, se é que a expressão existe e que ontem revelou o seu lado pujante. A nova doutrina de acção da sua equipa é a da governação "estupidamente" esclarecida. O problema é que não é mal intencionada, é convicta e assumida como o caminho correcto para salvar Portugal. Passos Coelho é uma pessoa idónea e séria, já o provou, mas está rodeado de imbecis no que respeita a matéria económica. Qualquer estudante de economia percebe que este caminho é o limiar do suicídio para a recuperação económica. Porque se  sente então o Primeiro-ministro como um homem no trilho certo?  Primeiro porque tem um Ministro das Finanças com "Formatação UE". Depois porque tem uma equipa económica fraca e desenquadrada da realidade. Terceiro, porque as instâncias internacionais validam o caminho que Passos segue e que é o único que o FMI e o BCE conhecem. E daqui resulta uma acção política supostamente esclarecida mas que acaba por redundar numa vertente "estupidamente" esclarecida.

Esta semana Cavaco Silva ensaiou um discurso duro contra o status quo europeu e deixou um claro aviso de que as metas só seriam atingíveis em condições de acelerada desagregação económica e social. Durão Barroso, nas suas últimas intervenções, parece ter percebido (perante uma Comissão Europeia que começa a ser relegada para segundo plano pelo nefasto eixo Paris-Bona) que este não é o caminho e curiosamente aproxima o seu pensamento de muitas das ideias defendidas pela esquerda europeia e não pelos seus apoiantes directos, nomeadamente o PPE.

Está na cara de qualquer pessoa (apenas) esclarecida que a prioridade deste governo teria de ser renegociar, em primeiro plano, o prazo de aplicação do programa da Troika, tanto mais que a capacidade e a manifesta vontade de Portugal atingir e cumprir as suas metas já ficou plenamente demonstrada nestes primeiros 120 dias de governação PSD.

Mas, na verdade, o Governo optou por se vexar aos superiores interesses de "uma Europa" pouco esclarecida no caminho que quer seguir ou então "estupidamente" esclarecida sobre o caminho que alguns querem que seja seguido.
Passos abriu caminho para uma profunda fractura no tecido social em Portugal.

Precisamos de um Primeiro-ministro esclarecido e não de um governante "estupidamente" esclarecido, apesar da seriedade, empenho e determinação que os portugueses lhe reconhecem.
Passos ainda está a tempo... de Mudar!

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