17 de setembro de 2009

Este País que nós temos...




Cada vez mais tenho por boa verdade que a qualidade da classe política – entendida no sentido lato da agregação de valores e não só das competências de exercício de cargo – está indexada à realidade cultural de cada país e que, no nosso caso, sem dúvida alguma acaba por reflectir o baixo nível de milhares e milhares de portugueses.

Vem isto a propósito de, dada vez mais, me confrontar com um sentimento de estupefacção ao ler os comentários que são produzidos e colados em rodapé nas notícias que correm nos vários media online, com destaque para o Sapo e o Público, que são duas das minhas visitas obrigatórias.

Aliás, confesso que ainda gostava de conhecer quem teve esta infeliz ideia de “inventar” tal sistema, talvez convencido que seria um contributo significativo para uma almejada democracia (mais) participativa ou para uma menor “asfixia democrática” como hoje é uso dizer-se. Tremendo erro.

Decidi-me a fazer um pequeno exercício: Imaginem um personagem isolado, um menino-lobo, sem contacto com o nosso país e que, durante algum tempo, só tivesse acesso a este tipo de comentários como forma de ir apreendendo e percebendo a realidade política, económica, social, cultural deste pedaço à beira-mar plantado.

Uma coisa é certa. Cá nunca poria os pés. Experimentem fazer este exercício e verão o que quero dizer.

Mas a face oculta desta “rábula” ou como lhe queiram chamar não se esgota aqui. E essa é a face perigosa que este mero exercício de avaliação não revela. É que, para muitos dos que ali rondam (nos comentários) a necessidade de ofender é muito maior do que a simples necessidade ou possibilidade de opinar. E este é apenas um pequeno sinal de uma caminho perigoso que estamos a permitir. Portugal não vive um défice democrático, como muitos políticos - principalmente aqueles mais à esquerda querem fazer crer - mas sim um excesso de democratização. E este está-se a materializar na esfera da comunicação. É aqui que é fácil esconder o vazio de ideias com parangonas discursivas, mas também é aqui que se compreende o vazio de valores com o discurso ofensivo e ordinário que a democracia (excessiva) legitima como a ampla liberdade de escolha e afirmação.

Nunca Portugal assistiu a tanto “insulto” na Política, a tanto disparate na Magistratura, a tanta ordinarice em algumas manifestações de sectores profissionais bem identificados, a um Jornalismo muitas vezes ofensivo escondido numa impunidade forçada por essa mesma forma de “Democracia adulterada” e a um despropósito sem rumo, em que todos dizem o que querem porque acham que a Democracia lhes confere esse direito.

Mas também nunca assistimos a tantos silêncios de quem tem obrigação de falar…

Orwell escreveu o Triunfo dos Porcos. Leiam-no, porque os porcos já andam ai à espreita!


Crônicas da Frontline

1 comentário:

Vitor Pereira disse...

Não acho que a ideia seja infeliz. É preciso separar o trigo do joio. Há espaços onde o diálogo é bem mais elevado e inteligente. O Sapo e o Público são, efectivamente, maus exemplos. Há que procurar.